Profissionais da enfermagem estão na linha de frente do combate à pandemia de covid-19
Tarso Sarraf/AFP – 26.03.2021

“Desesperador”. Foi este o adjetivo usado pelo enfermeiro James Santos, presidente do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), para definir o dia a dia dos profissionais durante o enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil.

Na linha de frente, a vacina, escudo que os protegeria da morte chegou quase um ano depois do início da transmissão do SARS-CoV-2 no país. A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, foi a primeira brasileira a ser vacinada contra a covid-19, no dia 17 de janeiro.

É como o dela, inclusive, o perfil da maioria dos profissionais da categoria que morreram em decorrência da doença no Brasil, segundo o Observatório da Enfermagem. Das 778 mortes registradas até maio deste ano, 67,61% foram de mulheres; e a maioria dos óbitos ocorreu entre a faixa etária de 41 a 60 anos.

Apesar dos dados do observatório também indicarem uma queda considerável na taxa de mortalidade pela doença entre os profissionais brasileiros, cerca de 93% a menos num comparativo da média móvel entre março e maio, James Santos avalia que o otimismo dos números ainda não é sentido no cotidiano da profissão.

“Isso não se reflete de forma rápida porque o profissional segue cansado mentalmente. Nós estamos vivenciando a pandemia há quase 15 meses, o desgaste mental é absurdo, temos diversos profissionais que estão afastados e sequelados em decorrência das alterações mentais”, afirma. 

O desgaste mental somou-se ao colapso do sistema de saúde vivenciado pelo país durante a segunda onda de transmissão, que dura até hoje e foi responsável por mais de 200 mil mortes apenas no primeiro semestre de 2021. Convivendo com a falta de medicamentos e de oxigênio, os enfermeiros passaram a lidar também com o sentimento de impotência.

“O profissional sai de casa para ir ao seu plantão dar o melhor da assistência aos pacientes, quando ele se vê frente a uma situação de falta de oxigênio, de kit intubação, fica extremamente impotente porque não depende mais da ação dele. Aquilo já ultrapassou seu papel de cuidar, então para nós, profissionais de saúde, isso traz um impacto negativo muito grande e sobrecarrega ainda mais, porque você não consegue executar aquilo que você sabe que seu paciente precisa”, afirma Santos. 

Sobre a falta de medicamentos, o presidente do Coren-SP afirma que é comum em hospitais da rede pública, mas destaca que este tipo de ocorrência implica em uma gravidade ainda maior em um cenário pandêmico.

“Isso é uma constante, a diferença é que hoje a falta das medicações causa mortes. No passado, em tempos muito próximos, a falta da medicação levava a uma piora clínica do paciente que acabava morrendo por outras causas. Hoje sabemos que a ausência de um antibiótico, de um kit intubação, vai causar uma morte muito mais rápida e isso se reflete em números alarmantes”, avalia.

Para ele, seguir as orientações para evitar o contágio e, assim, diminuir também o número de internações pela doença, é a forma com a qual os brasileiros podem contribuir para melhorar a situação dos profissionais da enfermagem.

“É muito importante que os profissionais sintam-se acolhidos pela sociedade, do ponto de vista de manter as condições de cuidado com a saúde, mantendo o distanciamento, não fazendo aglomerações, evitando que novas ondas possam surgir. O profissional de enfermagem segue muito cansado e desgastado”, disse.

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