Torcedores dispensaram uso de máscaras e distanciamento social na final da Eurocopa
Reuters/Ed Sykes
As imagens da final da Eurocopa, que foi disputada com a presença da torcida sem máscara lotando 70% da capacidade do estádio, em Londres, no último domingo (11), causaram um misto de sensações. Saudade ou aflição do contato?
Segundo o psicólogo Yuri Busin, o estranhamento se dá pelo fato de que o percurso da pandemia segue agravado no Brasil. No Reino Unido, por outro lado, mais de 50% da população já foi vacinada e o país vive um momento de relaxamento das medidas de restrição, mesmo com a variante Delta já predominante no país.
No caso do Brasil, 19% da população vacinável está totalmente imunizada, ou seja, recebeu as duas doses ou uma vacina de dose única.
“Depois que a pandemia for controlada, com certeza, estaremos de volta a esse nosso hábito de abraçar, beijar e estar junto. Mas ver aquelas imagens enquanto ainda vivemos a pandemia nos causa um conflito entre uma grande esperança e um grande susto do que aquilo pode gerar: ‘será que isso é uma coisa boa? Será que vamos chegar lá?”, explica o especialista.
Além disso, Busin destaca que a cultura brasileira de socialização foi fortemente abalada pela pandemia, já que o distanciamento social é uma das medidas de prevenção contra o coronavírus e, naturalmente, faz com que as pessoas se afastem, diferentemente do que já foi um hábito no país, quando um simples cumprimento era seguido de abraços e beijos.
“Somos, principalmente no Brasil, seres de muito contato. Então, além da questão da morte, fomos muito abalados nessa parte de socialização e isso trouxe um mal estar no geral, porque acabamos muitas vezes até esquecendo como é socializar e tendo dificuldade para isso. Essa nova cultura que fomos desenvolvendo [de afastamento], vai ser quebrada ao longo do tempo, mas quando a pandemia estiver muito bem controlada”, afirma.
Para a infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, consultora de biossegurança da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), ainda não é possível dizer quando a pandemia será controlada e, por conseguinte, quando os brasileiros poderão retomar os hábitos de socialização.
“Vai depender das condições sanitárias de cada setor, de cada mercado, de cada cidade, do poder de vacinação e do poder de vigilância epidemiológica. Sabemos que [não depende] só de um país, são todos os países, todas as cidades e pessoas, e eu não sei se o mundo já está com tudo isso pronto”, afirma.
A especialista da SBI também destaca que, em relação ao que se viu durante a Europa, será necessário acompanhar os efeitos epidemiológicos que o evento apresentará nas próximas semanas. Na Escócia, as autoridades de saúde identificaram quase dois mil casos de covid-19 entre os torcedores que compareceram às partidas do campeonato.
Já a epidemiologista da OMS (Organização Mundial da Saúde), Maria Van Kerkhove, classificou a falta de conscientização sobre a covid-19 na Eurocopa como devastadora e expressou o receio de que o evento impulsione a transmissão da variante Delta no país.
“A pandemia #Covid19 não está tirando folga esta noite… a #VarianteDelta da #SARSCoV2 se aproveitará das pessoas não-vacinadas, em aglomerações, sem máscaras, berrando/gritando/cantando. Devastador”, disse ela em um post no Twitter.
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