Teste serva para conferir contato com vírus, mas não para verificar imunidade
Ricardo Maldonado Rozo/EFE

A evolução de vacinação contra a covid-19 no Brasil e a ideia de voltar a uma vida mais próxima do normal fazem com que muitas pessoas recorram aos testes de sorologia para confirmar a imunização das vacinas recebidas. Mas, os especialistas não indicam os exames, uma vez que eles não apresentam uma resposta definitiva sobre a proteção à doença.

A médica Monica Levi, diretora da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), ressalta que a sorologia não tem a função de checar a eficácia da vacina e os resultados podem não retratar a realidade.

“A sorologia é indicada para quem não fez o PCR e no 15º dia após os primeiros sintomas quer saber se teve covid ou não, ou para fazer exame de prevalência, porque, numa pandemia, é importante saber quantas pessoas se infectaram. O IgG total só mostra que o indivíduo tem anticorpos, mas não indica se eles são capazes de impedir uma infecção”, afirma Levi.

“A pessoa faz um teste sorológico e pensa: aí que bom estou imunizada e se descuida. Não sabemos a quantidade de anticorpos efetivos e neutralizantes para refletir uma proteção verdadeira. O teste positivo não é afirmação que a pessoa está protegida”, acrescenta a especialista.

Carlos Eduardo dos Santos Ferreira, presidente da SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial), ainda lembra que os exames são recentes e não foi provado a importância dele para virar diretriz das entidades médicas.

“Não há uma diretriz, porque não se sabe o que fazer com o resultado. Não sabemos o grau de proteção para imunização ou para a necessidade de aplicar outra dose de vacina. Os testes chegaram há cinco meses no mercado, o vírus ainda é muito novo. Quando tivermos conhecimento de que o teste é necessário para direcionar uma outra dose ou evitar uma doença grave pode virar uma diretriz”, explica Ferreira.

A capacidade do SARS-CoV-2 de sofrer mutações rapidamente também influencia na veracidade e confiança da sorologia. A especialista alerta: “Vamos supor que o teste detecte anticorpos contra a cepa original e a pessoas se sente protegida contra covid. E se não funcionam tão bem para a variante do amazonas, que é 90% dos casos hoje no Brasil?”.

Outro fator levado em consideração por médicos é que a proteção às doenças infecciosas não se mede apenas pela produção ou não de anticorpos. A imunidade celular é importante e os exames que hoje estão sendo usados não detectam a capacidade das células de destruírem as partículas infectadas. 

“Para algumas doenças virais, é mais importante a imunidade celular, do que a produção de anticorpos, por exemplo a AIDS. Mas são doenças conhecidas, estabelecidas. Ainda precisamos descobrir muitas coisas sobre a covid”, ressalta Monica.

“Hoje o que médico vai falar para um paciente que fez o teste e não produziu anticorpo, não está imune, mas ela pode estar protegida. O paciente pode ter resposta celular e não de anticorpos e vice-versa”, conta Ferreira.

Uma das principais respostas que os cientistas precisam descobrir sobre o SARS-CoV-2 é a duração da imunidade, após vacina ou infecção pelo vírus. “A período da proteção vai determinar a necessidade de uma terceira dose ou reforços posteriores. No caso da doença, não se sabe com precisão, mas sabemos que a imunidade é curta. E a imunidade conferida pela vacina? Se a pessoa faz hoje o teste e aparecem os anticorpos vacinais, mas em um mês pode não ter mais”, observa Levi.

O presidente da SBPC/ML lembra que o foco deve estar na aplicação de doses, porque os números de mortes e novos casos no Brasil seguem crescendo. “No momento que estamos hoje o importante é vacinar, ampliar a vacinação, e não pensar em discussão de teste. Todo mundo tem que estar com pelo menos uma dose de vacina para depois pensar nesse assunto”, diz Ferreira.

Monica Levi conclui: “não é porque tem uma sorologia positiva que pode sair por aí, pensando: ‘a covid não é mais problema meu!’ Não é nada disso.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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