Chen Peijie diz que 27 mil pacientes já foram curados
Consulado Geral da China em São Paulo
Em quarentena voluntária em sua residência na capital paulista, a cônsul-geral da República Popular da China em São Paulo, Chen Peijie, afirmou em entrevista exclusiva ao R7 que o surto do novo coronavírus causará um “impacto temporário”, mas não abalará a força da segunda maior economia do mundo.
Chen Peijie estava na China até a semana passada e disse que ficou orgulhosa com a união dos chineses durante a crise. Segundo ela, profissionais de várias áreas juntaram esforços para combater o vírus responsável pela doença (Covid-19) que já matou mais de 2.700 pessoas apenas no país asiático.
Morreram muitas pessoas, diz, mas 27.000 foram curadas. Ela acredita que houve exagero em algumas avaliações internacionais ao abordar a epidemia e que, aos poucos, começa a ser retomada a atividade industrial no país.
Há alguma previsão de quando a situação do país voltará ao normal?
Chen Peijie — No ponto de vista científico, o que podemos fazer é nos esforçar para combater a epidemia. No entanto, a avaliação e previsão referente a isso é da área dos especialistas. Até agora, as nossas medidas são muito efetivas, visto que conseguimos a diminuição de novos casos confirmados. Tirando a província de Hubei, registramos apenas 5 casos novos confirmados no dia 25. Além disso, mais de 27,000 casos foram curados até o dia 25.
A retomada de produção também é muito importante. Promover a retomada de produção de forma ordenada é uma medida fundamental para combater a epidemia e manter a estabilidade econômica e social, para a qual o governo chinês dá imensa importância. Já se vê um avanço positivo da retomada com o esforço de todas as partes. Tirando Hubei, as outras regiões estão retomando a produção normal passo a passo. Até o dia 24, mais de 70% das entidades industriais de grande porte voltaram a produzir, sobretudo em algumas províncias de maior importância econômica, como Jiangsu, onde o número chegou a 90%. Temos o fornecimento suficiente de energia elétrica, petróleo, gás natural e outros combustíveis, as redes de transporte aéreo e fluvial já estão funcionando normalmente, e o volume de carga tranportada por ferrovias já chegou a 95% do nível normal.
“Tirando a província de Hubei, registramos apenas 5 casos novos confirmados no dia 25. Além disso, mais de 27,000 casos foram curados até o dia 25.”
Chen Peijie, cônsul-geral da China em São Paulo
Qual é a reação situação econômica hoje da China? Dá para se medir os impactos dessa doença na economia do país?
Chen Peijie — Inevitavelmente, a epidemia vai trazer para a economia e sociedade da China desafios, mas desafios que devem ser temporários. A economia chinesa é como um mar, não uma pequena piscina, e não vai ser destruída pelas ondas finitas. A China é a segunda maior economia do mundo e o único país que possui todas as categorias industriais classificadas pelas Nações Unidas, com o PIB de 14,4 trilhões de dólares, e o PIB per capita acima de 10 mil dólares em 2019, além de um mercado de 1,4 bilhão de habitantes, entre os quais 900 milhões são mão de obra ativa, além de 400 milhões pertencentes à classe média. Essa escala econômica não será abalada pelo impacto temporário da epidemia. A tendência positiva em longo prazo não mudou, nem mudará.
O governo central da China tomou uma série de políticas de apoio financeiro, tributário e de fornecimentos a fim de aliviar a pressão das empresas, fortalecer a confiança do mercado e estabilizar a expectativa de investimentos. Os governos locais e instituições também adotaram medidas positivas, como diminuição de impostos e aluguéis, ajudando as empresas a superar as dificuldades. Temos toda a razão para acreditar que a economia chinesa voltará à normalidade em curto prazo. O Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional também manifestaram otimismo e confiança em relação à economia chinesa.
Que atividades foram comprometidas e quais mantiveram índices altos de desempenho?
Chen Peijie — O surto do novo coronavírus coincidiu com a celebração do Festival do Ano Novo Chinês [25 de janeiro de 2020], que é normalmente uma boa temporada para o consumo e o turismo na China. Com uma atitude altamente responsável em relação ao povo chinês e à comunidade internacional, o governo tomou medidas preventivas rigorosas e abrangentes. É inevitável que seja afetada a economia ao longo do feriado, sobretudo no setor do serviço, tais como transporte, logística, cultura, turismo, hotelaria, restaurantes, cinema, entretenimento. Mas, ao mesmo tempo, chamou a nossa atenção o desenvolvimento de algumas novas áreas como consumo, entretenimento e educação online. Embora esse surto traga um impacto em curto prazo, é obviamente uma oportunidade de incentivar a transformação estrutural da econômica chinesa.
A China considerou exagerada a forma como a imprensa internacional e os outros países reagiram ao novo coronavírus?
Chen Peijie — Para conter a propagação do vírus ao resto do mundo, o governo chinês tem tomado atitudes abertas e transparentes para partilhar as informações e cooperar com a comunidade internacional após o início do surto, o que foi altamente elogiado pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) [Ban Ki-moon] e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
No cenário internacional, líderes de mais de 160 países e organizações internacionais expressaram apoio firme e solidariedade à China, inclusive o Brasil. Alguns países reforçaram as suas medidas de vigilância, as quais consideramos razoáveis. No entanto, em vez de seguir conselhos profissionais emitidos pela OMS, alguns países reagiram de forma exagerada, o que levou ao pânico desnecessário. Por trás desses episódios, alguns políticos estrangeiros pretendem aproveitar essa ocasião para atingir os seus objetivos políticos específicos. O governo chinês já expressou a insatisfação e discordância com esse tipo de comportamento e contra expressões irresponsáveis.
De que forma muda, se é que vai mudar, a relação da China com o Brasil nos próximos meses por causa do coronavírus?
Chen Peijie — Falando da influência para a nossa relação bilateral, enxergamos a grande amizade e o nível alto da parceria estratégica global entre a China e o Brasil, pois nessa crise o governo chinês e seu povo têm recebido solidariedade e apoio enviado por diversos meios pelos nossos amigos brasileiros, incluindo o do presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Vamos guardar no nosso coração para sempre tudo isso. Creio que essa experiência de ficarmos juntos no combate ao surto vai fortalecer a nossa amizade tradicional, e injetar nova vitalidade na nossa parceria. Comercialmente, temos uma base firme da cooperação econômica, com o volume de trocas comerciais acima de 100 bilhões de dólares americanos por dois anos consecutivos. Acredito que a nossa relação comercial vai continuar tranquilamente.
m vez de seguir conselhos profissionais emitidos pela OMS, alguns países reagiram de forma exagerada, o que levou ao pânico desnecessário
Chen Peijie, cônsul-geral da China em São Paulo
As autoridades do país consideram a união do povo chinês uma importante arma no combate à doença?
Chen Peijie — Com certeza! Fico orgulhosa pela união do nosso povo, que desempenha um papel inportante no desenvolvimento da China e na resposta às grandes emergências. Acredito que todos já tenham conhecimento, através de reportagens das mídias internacionais, que milhares de médicos e enfermeiros, correndo o risco de ser infectados, atuam na linha de frente no combate à doença voluntariamente, que os engenheiros conseguiram construir dois hospitais em menos de 15 dias, que os cientistas isolaram com sucesso primeira leva de vírus em menos de sete dias e desenvolveram os reagentes, que os chineses voluntariamente desistiram de viajar ou de se reunir com suas famílias no Festival do Ano Novo Chinês para ficar isolados. Tudo isso tem ajudado a controlar efetivamente a propagação da epidemia. Na batalha, todos os chineses desempenham seus papéis e contribuíram com suas forças. A solidariedade do povo chinês e a sua confiança em derrotar a epidemia foram elogiadas pela comunidade internacional. Como o Diretor-Geral da OMS,Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse, as medidas de prevenção e controle e os grandes sacrifícios do povo chinês têm ajudado a conter a propagação do vírus para outros países do mundo.