Especialistas apontam variante P.1 e outras razões para avanço rápido da pandemia
Raimundo Paccó/Framephoto/Estadão Conteúdo – 28.3.2021
Há exatos 36 dias o Brasil rompia a marca de 300 mil óbitos por covid-19, 76 dias após ter registrado 200 mil. Nesta quinta-feira (29), foram contabilizados mais de 400 mil óbitos, uma média de 116 por hora desde o dia 24 de março.
Um dos motivos para o aceleramento da pandemia no país é a disseminação da variante P.1, identificada em Manaus (AM). “A variante amazônica explica parte dessa velocidade apresentada nos últimos meses porque ela é mais transmissível — infecta mais gente e, infelizmente, tem evidência de que ela é mais agressiva”, explica epidemiologista Pedro Hallal, professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas).
“O que não gosto é quando as pessoas dão a entender que é só a variante que causou todos esses danos. Tem também todo o descontrole da pandemia, pelo abandono completo das medidas de restrição de circulação do vírus, que foi observado no Brasil de novembro até fevereiro”, pondera.
O médico Renato Kfouri, da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), aponta também “um país cansado de distanciamento social”, algo que, na avaliação dele levou a uma baixa adesão às medidas estipuladas pelo poder público.
O que esperar daqui em diante?
Médico avalia que flexibilização das restrições foi precoce
Alex Silva/Estadão Conteúdo – 26.4.2021
O médico sanitarista e ex-diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) Gonzalo Vecina Neto não tem uma visão otimista das próximas semanas. Ele avalia que o leve arrefecimento dos números de novos casos, internações e óbitos levou a um relaxamento das medidas necessárias para frear os contágios.
“Daqui a 14 dias vamos ter outro crescimento do número de casos e mortes. Estou vendo como as pessoas estão se comportando desde domingo passado”, diz.
Kfouri também entende que pode haver “algum repique” diante das flexibilizações que estão ocorrendo nos estados. “O relaxamento das medidas de distanciamento que as grandes capitais fizeram foi um pouco precoce. No primeiro sinal de estabilização, de queda de leitos de ocupação, já se liberou academia, na semana seguinte, restaurantes. Os parques já estão cheios, praias cheias.”
Ele explica que, embora estejam em declínio, as médias móveis de novos casos (cerca de 57 mil por dia) e óbitos (cerca de 2.400 por dia) permanecem em patamares muito altos. “Não estou dizendo que é fácil, mas se tivéssemos conseguido manter mais uma ou duas semanas tudo mais fechado, acho que conseguiríamos chegar a uma média em níveis mais baixos”, afirma Kfouri.
Hallal também revela preocupação com estes números. “Isso já aconteceu no ano passado. O Brasil subiu devagar, comparado com outros países, e estabilizou em 1.000 mortos por dia. Estou com medo agora que a estabilização seja na casa dos 2.000 mortos. O certo agora é tomar medidas para reduzir essa média, e não para estabilizar.”
O sinal de alerta do epidemiologista é dado porque as regiões mais populosas do país entram no inverno daqui a menos de dois meses. E foi justamente neste período do ano passado que o país teve os maiores picos de casos e mortes.
“Claro que é verdade que os vírus da família coronavírus gostam mais do frio do que do calor. Mas, desde o começo, quando nós tivemos a primeira onda forte em Manaus, ficou evidente que o coronavírus não respeita essa história de tempo. As regiões Sul e Sudeste podem apresentar a incidência do novo coronavírus com a de outras doenças [respiratórias], e isso gerar um agravamento do quadro.”
A progressão da campanha de vacinação para outros grupos além dos idosos também vai definir como a pandemia se comportará no Brasil nos próximos meses.
O Ministério da Saúde estima distribuir 34,4 milhões de doses de vacinas no mês de maio, iniciando a imunização de pessoas abaixo de 60 anos com doenças que podem agravar a covid-19. Este é o maior grupo prioritário, com aproximadamente 17 milhões de indivíduos.