Uma pessoa pode receber a primeira dose de um imunizante e a segunda de outra no Reino Unido
Yves Herman/Luisa Gonzalez/Mike Segar/Reuters
Residentes de países como Itália, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Coreia do Sul, entre outros, estão recebendo vacinas contra covid-19 de diferentes fabricantes na segunda dose.
Embora ainda haja poucos estudos robustos a respeito da estratégia, ela é apontada como uma forma de evitar que as pessoas não tomem a segunda dose por falta do imunizante em determinado local de vacinação.
Um dos pioneiros na iniciativa foi o Reino Unido. A MHRA (Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde) britânica ressalta que estudos sobre a imunogenicidade (capacidade da vacina de provocar resposta imune) estão sendo conduzidos para casos em que há o uso de diferentes fármacos.
No entanto, o órgão admite a possibilidade de intercâmbio de imunizantes.
“Todo esforço deve ser feito para determinar qual vacina o indivíduo recebeu para sua primeira dose e para completar o esquema de duas doses com a mesma vacina. Para os indivíduos que iniciaram o esquema e que comparecem para vacinação em um local onde a mesma vacina não está disponível, por exemplo, se o indivíduo recebeu sua primeira dose no exterior, ou onde o primeiro produto recebido é desconhecido, é razoável nessas circunstâncias, oferecer um dose do produto disponível localmente para completar o cronograma”, diz nota técnica da agência.
Em outros locais da Europa, a razão tem sido outra. Países como França, Espanha e Alemanha estão optando pela segunda aplicação de uma vacina diferente naqueles que receberam uma injeção da AstraZeneca.
A alteração envolve temores de formação de coágulos (considerados raros) em determinados grupos da população, especialmente pessoas abaixo de 60 anos.
Recentemente, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, tomou uma dose da Moderna, após ter sido vacinada inicialmente com a AstraZeneca.
Mesmo sem consenso na comunidade científica, a EMA (Agência Europeia de Medicamentos) afirmou na última quarta-feira (23) que há “boas bases científicas” para sugerir que a mistura dos imunizantes contra covid-19 é segura e eficaz.
A justificativa do órgão regulador europeu é de que todas as vacinas de duas doses em uso no bloco — Pfizer/BioNTech, Moderna e AstraZeneca — atuam de maneira parecida, com foco na proteína spike do coronavírus.
Todavia, a EMA ressalta que no momento “não está em posição de fazer recomendações definitivas sobre o uso de diferentes vacinas contra covid-19 para as duas doses”.
Os estudos conduzidos no Reino Unido já tiveram dados preliminares sobre segurança divulgados. Foram analisadas as vacinas AstraZeneca e Pfizer.
“Os dados iniciais de reatogenicidade e segurança do ensaio clínico Com-COV2 mostraram que os participantes do ensaio que receberam vacinas diferentes para sua primeira e segunda doses experimentaram um aumento na taxa de reações após a segunda dose em comparação com aqueles que receberam a mesma vacina para ambas as doses. Os destinatários de vacinas mistas eram mais propensos a sentir febre, calafrios, fadiga, dor de cabeça, dor nas articulações, mal-estar e dores musculares. No entanto, não houve hospitalizações devido a esses sintomas, e a maior parte do aumento da reatogenicidade foi observada nas 48 horas após a imunização”, diz a MHRA.
A parte do estudo que analisa o efeito da mistura de vacinas em relação à imunidade deve ser divulgada em breve.
No Brasil, a possibilidade de intercâmbio de vacinas não foi aventada até agora. Segundo a vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, não há aqui “um motivo plausível para começar com uma [vacina] e terminar com outra”.
Ela salienta que tem sido possível desde o início garantir a vacinação das pessoas com doses do mesmo imunizante e que as programações de entregas dão certa segurança de que isto poderá ser mantido.