Médicos explicam que excesso de trabalho causa estresse e rouba horas de atividades físicas
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Um estudo realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) mostrou que trabalhar mais de 55 horas por semana aumenta o risco de doenças cardíacas e de AVC (acidente vascular cerebral).
De acordo com a pesquisa divulgada neste mês, pelo menos 745 mil trabalhadores morreram em 2016 por causa do excesso de trabalho no mundo todo, desse total, 398 mil foram vítimas de acidente vascular cerebral e 347 mil de doenças cardíacas.
Ao comparar uma jornada de trabalho de 34 a 40 horas semanais a uma rotina de mais de 55 horas trabalhadas, o estudo concluiu que o risco de um acidente vascular aumentou em 35%, e 17% de morrer de doença cardíaca isquêmica.
Segundo Djalma Menéndez, neurocirurgião no Grupo de Neurocirurgia Vascular do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), o estresse físico e mental é o que contribui para o risco de AVC em trabalhadores.
Isso acontece porque o excesso de trabalho requer uma resposta biológica do corpo, que ativa uma parte do sistema nervoso – chamada sistema nervoso autônomo – responsável por combater e suportar qualquer reação de estresse.
“Ele libera hormônios e neurotransmissores como o cortisol, que, no primeiro momento, é benéfico para combater determinado estresse, mas que, se perpetuado e em excesso, pode levar a danos nos vasos sanguíneos, aumentando o risco do AVC”, explica Menéndez.
Além disso, o especialista destaca que o estresse relacionado ao trabalho pode levar a outros fatores de risco para que ocorra um acidente vascular cerebral, como tabagismo, consumo de bebida alcoólica em excesso, falta de prática de atividade física, dieta não saudável e distúrbio de sono. “O excesso de trabalho já deve ser considerado como um risco ocupacional”, afirma.
“Tanto o AVC quanto o infarto do miocárdio têm como principal fator uma condição chamada de aterosclerose, que nada mais é que o acúmulo de placas de gordura e cálcio nas artérias. Os principais fatores de risco para formação da aterosclerose são hipertensão arterial, tabagismo, diabetes, sedentarismo, obesidade, colesterol alto, dieta inadequada”, explica o neurocirurgião.
Estes fatores também aumentam o risco para doenças cardíacas que, assim como o AVC, tem a aterosclerose como causa principal, segundo o cirurgião cardiovascular Elcio Pires Junior coordenador da cirurgia cardiovascular do Hospital e Maternidade Sino Brasileiro da Rede D’or.
“O endurecimento das artérias, tanto no coração, quanto no sistema vascular cerebral, se dá com essas obstruções devido à reposição de gordura. Então isso tem muito a ver com a alimentação desses pacientes, com a vida sedentária e o excesso de trabalho contribui para isso. O aumento do estresse e da pressão arterial acaba endurecendo essas artérias, facilitando as suas deposições”, explica o especialista.
Pandemia e home office
Desde o começo da pandemia de covid-19 no país, o home office se tornou uma alternativa segura para evitar que os trabalhadores se exponham ao risco de contágio do coronavírus. No entanto, nesta nova dinâmica, algumas pessoas acabam trabalhando mais do que quando precisavam se deslocar até o local de trabalho.
Menéndez destaca que isso também é prejudicial para a saúde. “Independente se é um trabalho presencial ou remoto, não tem diferença para o cérebro. O estresse é o mesmo de uma carga horária presencial. É uma falsa sensação achar que porque não está indo trabalhar, que está em casa, está descansando mais”, explica.
Além disso, Pires Junior ressalta que um número maior de horas trabalhadas também significam menos tempo para a prática de atividades físicas e lazer, ou mesmo para organizar uma alimentação mais saudável.
“Muitas vezes nessas horas a mais o paciente acaba consumindo mais gorduras e frituras. Também existe um aumento de bebidas com cafeína e de energéticos para ficar trabalhando até mais tarde, isso também impacta na saúde cardiovascular”, afirma o especialista.
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