Apesar do investimento para adequação sanitária, escolas não devem aumentar
WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO

Em meio à pandemia, escolas particulares de São Paulo tentam limitar o reajuste de suas mensalidades à inflação e dão descontos para reter estudantes. As unidades dizem ter registrado alta nos custos de operação, para adequações sanitárias e tecnológicas, mas temem que aumentos elevados no preço das parcelas afastem os estudantes.

Sindicatos que representam as escolas particulares têm orientado que as instituições aumentem o mínimo possível ou evitem reajustes se puderem. Levantamento do Grupo Rabbit, que faz consultoria de gestão escolar, indica média de reajuste de 5% em 328 colégios paulistas – a inflação para o ano que vem deve ficar em torno de 3%.

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Outro grupo, o Apoio Estratégico, que atende mais de mil escolas diz que os aumentos têm ficado entre 3% e 5% e não cobrem gastos deste ano com ensino remoto, reformas e materiais. “Se fosse seguir só a planilha de custos, as escolas chegariam a até 9% de reajuste, mas não dá para repassar isso em um ano de covid”, diz Ivan da Cunha, diretor de Consultoria da Apoio Estratégico.

Apesar de verificar aumento de custos, o Colégio Humboldt, na zona sul de São Paulo, decidiu não fazer reajustes. Segundo o diretor Fábio Martinez, essa é uma forma de reconhecer o momento de crise vivido pelas famílias e de atrair estudantes. O colégio de origem alemã sem fins lucrativos perdeu 51 alunos na pandemia o que representa 4,7% dos estudantes – parte deles da educação infantil, a área mais afetada no ensino remoto.

“Conseguimos implementar uma série de medidas de economia que compensaram a perda de alunos”, explica Martinez. Ele espera que parte dos estudantes retorne em 2021.

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No Colégio Dante Alighieri, na região central, o aumento será de 2,92% e a escola não pretende manter descontos dados na pandemia. Segundo a escola, foram feitas readequações internas para reduzir o impacto dos descontos concedidos.

Para balancear os gastos na pandemia, o Colégio Iapi, na zona norte, vai aumentar a anuidade em 4%, mas prevê desconto de 40% na primeira parcela. A escola, de médio porte, chegou a perder cerca de 50 dos 200 alunos da educação infantil e só agora as matrículas estão retornando. “Fizemos investimentos e melhorias. Aderimos a uma assessoria de saúde escolar, fizemos palestras e treinamento”, explica Francini Dias, vice-diretora da escola. O colégio ainda contratou enfermeira e instalou sistema, com câmeras e computadores, para aulas híbridas, em que só uma parte dos alunos vai à escola.

Segundo o Grupo Rabbit, houve alta de cerca de 15% nas despesas dos colégios. A Escola Luminova, por exemplo, diz ter gasto R$ 500 mil a mais neste ano, para adequação sanitária e investimento com aulas remotas – na escola, haverá reajuste médio de 5% para o ensino regular.

No Colégio Santa Maria, na zona sul, que também vai reajustar a mensalidade pela inflação, houve déficit neste ano por causa dos descontos e nem mesmo a escola fechada aliviou as despesas. “A conta de luz não representa nem 0,5% dos gastos de uma escola. Usando ou não eletricidade e água, se paga porque temos um contrato de fornecimento”, diz a diretora Diane Clay Cundiff.

Segundo Benjamin Ribeiro, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado (Sieeesp), parte das unidades só deve comunicar o reajuste na última hora, em dezembro. A recomendação é de que se aguarde definição sobre a reforma tributária que tramita na Câmara dos Deputados. Caso aprovada, a alíquota sobre as mensalidades pode subir de 3,65% para 12%. “Nesse caso, a escola vai ter de repassar.”

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Por lei, as escolas têm de comunicar o aumento no máximo 45 dias antes do prazo final para a matrícula. Se a proposta de reforma tributária não for votada no fim deste ano, a recomendação de Ribeiro que é as escolas não reajustem ou aumentem o mínimo. “É hora de manter os alunos e ajudar as famílias.”

A mesma orientação tem sido dada pelo Semeei, que representa as escolas da educação infantil, as mais afetadas pela crise, com perda de receitas de até 80%. “Elas já perderam muito. Não faz sentido pensar em aumento real de mensalidade”, diz Eliomar Pereira, do Semeei. Segundo ele, as escolas de educação infantil devem reabrir com apenas 60% dos alunos que tinham antes da crise.

Troca. Analistas do setor dizem que há tendência maior de troca de escolas neste ano e que as unidades com mensalidade mais baixa já estão perdendo alunos para a rede pública. “Naturalmente, 10% a 15% de alunos mudam de escola. Na pandemia, esse número vai ser maior, com a busca de escolas mais baratas”, diz Christian Coelho, CEO do Grupo Rabbit.

A empresária Rose Gonzalez, de 54 anos, optou por trocar a filha de escola depois de conseguir descontos mais vantajosos em outros colégios. A menina, que vai ingressar no ensino médio, estudava em uma escola de ponta na zona sul paulistana e se mudará para outra de porte semelhante na mesma região. “Muitas estão com descontos, vi escolas boas. Antigamente, quando você ia fazer (matrícula) ninguém tinha desconto no ensino médio”, afirma.

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