Opioides possuem anti-psicóticos e são usados para controlar a dor
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Médicos que receberam cartas alertando sobre os riscos de overdose de medicamentos do tipo opioide reduziram sua prescrição em cerca de 10%. O estudo foi publicado em agosto no periódico científico Jama Psychiatry e reportado nesta quarta-feira (5) pelo jornal The New York Times.
O objetivo do estudo era reduzir a prescrição médica de opioides, medicamentos que contêm agentes anti-psicóticos que podem causar danos se receitados em excesso. Para isso, um grupo de cientistas organizou um experimento: um médico legista enviou cartas para outros médicos para alertar sobre o risco desse tipo de medicação.
Opioides são medicamentos que agem diretamente no sistema nervoso para controlar a dor. Se usados indevidamente ou a longo prazo, podem causar dependência – a ponto de o paciente sofrer com crises de abstinência.
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O estudo foi realizado entre 2013 e 2014 e analisou 5.055 prescrições médicas do opioide quetiapina, o que representa 5% de todas as receitas do tipo prescritas na rede de atenção primária dos Estados Unidos.
Os médicos que prescreveram o medicamento foram divididos em dois grupos. Os profissionais do primeiro grupo receberam uma “carta placebo”, ou seja, uma carta com a história fictícia de um paciente de havia morrido de overdose por causa de um tratamento com opioides. O resultado mostrou que os médicos que receberam esta carta reduziram suas prescrições de opioides em quase 10%, em comparação com os médicos que não receberam a carta.
A segundo grupo recebeu uma carta que alertava sobre a prescrição em excesso de opioides na atenção básica. Entre esses médicos, as receitas caíram mais de 15% em dois anos.
A análise que os cientistas fazem é que é possível usar pistas comportamentais de baixo custo para mudar as práticas médicas. Em vez de oferecer novos treinamentos, ou fazer um dos muitos exames médicos caros, os pesquisadores exploraram o poder de toques mais sutis.
Segundo o jornal The New York Times, esforços anteriores para diminuir a prescrição excessiva de opioides não fizeram efeito. Mas este último estudo mostra que quando a mensagem chama a atenção (tem apelo), a solução pode ser descomplicada. Algo tão barato quanto uma carta pode mudar a maneira como a medicina é praticada.
“Se você voltar no tempo antes desse estudo ser publicado, não havia nenhum exemplo de uma intervenção realmente simples e facilmente escalável que pudesse diminuir a prescrição de forma significativa ”, disse Adam Sacarny, professor assistente de política de saúde na Universidade de Columbia e co-autor do estudo.
Embora diferentes, as duas cartas compartilham algumas características: são bem agressivas, foram enviadas por órgãos do governo e sugeriram um nível de vigilância governamental para prescrição excessiva. As duas também falaram sobre a possibilidade de danos aos pacientes, como a morte por overdose. As cartas também mostraram que administrar essas drogas para os pacientes errados poderia causar uma série de consequências negativas para a saúde.
Mesmo com estes resultados, existe a preocupação de que a estratégia de sucesso possa, com o tempo, se transformar em um fracasso. Kevin Volpp, diretor do centro de incentivos à saúde e economia comportamental da Universidade da Pensilvânia, lembra como os primeiros alertas pop-up em registros médicos eletrônicos ajudaram a orientar os médicos para as melhores práticas. Mas à medida que proliferaram, tornaram-se mais fáceis de ignorar. Ele se pergunta se cartas severas poderiam ter retornos decrescentes se se tornassem mais populares. “Uma vez que você tenha 30 lembretes voando para você de todas as direções, eles podem não ser mais eficazes”, disse ele ao The New York Times.
Também não está claro se as cartas ajudaram os médicos a evitar a prescrição de medicamentos para pacientes que poderiam ser prejudicados – ou apenas reduzir a prescrição de uma vez por todas – já que a mudança foi notada apenas nas prescrições para pacientes novos.
Peter Ubel, professor de negócios, políticas públicas e medicina da Universidade de Duke estuda abordagens comportamentais para assistência médica. Para ele, mesmo a carta perfeita não será suficiente para mudar a prática médica por conta própria. “O mundo precisa de mudanças maiores do que as que você viu nos estudos, mas este é um bom começo”, disse ao The New York Times.
Para os pesquisadores, esta forma de passar informação é empolgante porque é uma opção barata, além de ser mais fácil de testar do que muitas outras estratégias.
“Se você quiser impedir que algo aconteça, você tem que construir pedras perto do rio, ao longo da borda, para represar”, disse Jason Doctor, co-autor do estudo, ao The New York Times.
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