Transporte público lotado coloca em risco saúde dos passageiros
Suamy Beydoun/Agif/Estadão Conteúdo – 12.4.2020
Se houvesse uma campanha maciça de distribuição de máscaras filtrantes a passageiros de transportes públicos no Brasil, a transmissão do coronavírus nesses locais seria reduzida. A afirmação é da epidemiologista e professora da Ufes (Universidade Federal do Espírito Santo) Ethel Maciel.
Todavia, ela avalia que o ideal seria que as pessoas não precisassem se aglomerar em ônibus, metrôs e trens, mas que uma solução possível diante do cenário imposto é a adoção de máscaras mais eficientes.
“O Brasil deveria ter uma política pública [acerca de máscaras filtrantes]. Já que não vai fazer o que deveria, que é um lockdown nacional de 21 dias, pelo menos, deveria investir neste momento em medidas que pudessem minimizar a transmissão. Ter máscaras filtrantes é uma ação que tem potencial de diminuir essa transmissão”, afirma Ethel.
Ela se refere a uma categoria específica de máscaras chamadas PFF2 ou N95 (não confundir com KN95), que possuem uma capacidade muito maior de evitar que a pessoa se infecte ou que transmita o vírus para outro, quando comparadas às máscaras de pano.
Essas proteções podem ser reutilizadas sem necessidade de lavagem — o ideal é pendurá-las em uma área ventilada após o uso.
Vale destacar que a versão com válvula de expiração desse tipo de máscara é altamente contraindicada. Estudos mostraram que se o usuário estiver com covid-19, elas facilitam a disseminação do vírus no ar.
Alguns países da Europa, como Áustria e Alemanha, estabeleceram regras que proíbem pessoas de embarcarem no transporte público sem uma máscara PFF2. Na visão da epidemiologista, o mesmo deveria valer aqui, desde que fossem distribuídas pelo governo a quem não tem condições de comprá-las.
Tramita no Senado Federal um projeto de lei (762/2021), de autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE), que determina que o SUS ofereça duas máscaras PFF2 aos beneficiários do auxílio emergencial, do Bolsa Família ou do BPC (Benefício de Prestação Continuada).
“Um conjunto de ações: aumento de frota, para que as pessoas não passem por aquela situação de aglomeração total, encostando umas nas outras, deveria ter máscaras mais filtrantes, que o nosso Sistema Único de Saúde distribuísse, e equipamentos eficientes de filtragem de ar”, explica a epidemiologista.
Ethel fala sobre a importância de se usar filtros HEPA, que têm capacidade de eliminar as partículas virais de ambientes fechados com circulação de ar, como um vagão de metrô, um ônibus ou até mesmo aviões. Estes últimos já estão usando a tecnologia.
“Se nesta pandemia, em que a aglomeração é um fator de transmissão importante para adoecimento e morte, se a gente não conseguir neste momento melhorar o transporte público no Brasil, não vamos conseguir melhorar nunca”, alerta.
Cuidados individuais
Máscaras deste tipo conseguem reduzir a transmissão do coronavírus
Marcelo D. Sants/Framephoto/Estadão Conteúdo
Quem estiver disposto a investir nas máscaras PFF2 ou N95 não precisa gastar muito. Elas podem ser encontradas a partir de R$ 2 na internet, principalmente em lojas de materiais de construção.
Com objetivo de tornar mais acessível o acesso a esse tipo de proteção, voluntários criaram o site PFF para Todos.
A página, sem fins lucrativos, faz um levantamento nacional dos melhores preços de máscaras de alta filtragem, além de dar orientações sobre quais comprar.
Ethel Maciel diz que uma alternativa para quem não encontrar PFF2 ou N95 são as máscaras cirúrgicas, mas que estas precisam ser reforçadas no transporte público.
“A máscara cirúrgica, aquela de três camadas, também é filtrante. Ela tem um problema da vedação. Por isso, o CDC [agência de saúde dos EUA] tem recomendado colocar uma máscara de tecido por cima da cirúrgica, para melhorar a vedação”, explica.
A terceira opção seria o uso de duas máscaras de pano durante os deslocamentos, afirma a epidemiologista.
Conversa deve ser evitada
É muito comum ver pessoas conversando em ônibus, trens e metrôs, o que pode facilitar a propagação do coronavírus no ambiente.
“Deveria ter uma campanha para que a gente evitasse, nesses locais fechados, as conversas, só o estritamente necessário, porque vai espalhando as gotículas. Se as pessoas estão com máscaras que não são filtrantes, falando em um tom acima, em que você acaba forçando mais e expelindo mais gotículas, em um ambiente fechado, que não tem uma circulação de ar… tudo isso vai adicionando um risco àquele ambiente”, acrescenta a professora.
Por fim, ela salienta que o mais importante é que as pessoas saibam por que elas estão usando as máscaras: que envolve a proteção de si mesmo, mas também do outro.
“Temos visto muitas pessoas com máscara no queixo, sem máscara, e colocam a máscara quando vão entrar em algum lugar. Algumas veem isso como obrigação. Então, elas precisam saber por que elas estão usando”, encerra.