Mourão durante palestra na sede do Clube Militar do Rio de Janeiro
Tomaz Silva/Agência Brasil – 24.09.2019

Isolado no governo Jair Bolsonaro, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou, na manhã desta quarta-feira (23), a jornalistas em Brasília que o fato de expressar opiniões distintas, especialmente nas questões relacionadas ao combate à pandemia, não faz dele um opositor ao chefe do executivo federal. 

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“O presidente tem uma maneira de ver as coisas, ele é o decisor. Eu tenho outra maneira de ver e não vou contra as decisões do governo. Agora, algumas observações eu faço”, afirmou o general da reserva do Exército.

Desde o começo da crise sanitária, Mourão tem se posicionado por uma comunicação mais assertiva para orientar a população no uso de máscaras, distanciamento social e importância da vacinação, em um claro contraponto a Bolsonaro. Além disso, reclamou recentemente de ficar de fora de reuniões ministeriais, chegando a dizer que não sabe o que se discute no Planalto. “É muito chato o presidente fazer uma reunião com os ministros e deixar seu vice-presidente de fora”, afirmou em 20 de junho. “Eventualmente, eu tenho que substituir o presidente e, se não sei o que está acontecendo, como vou substituir? Não há condições.”

Antes, em 9 de fevereiro, o vice-presidente também foi excluído de um encontro que contou com a participação de 22 dos 23 ministros que não estava na agenda oficial de Bolsonaro. Na ocasião, preferiu não se estender na polêmica, mas demonstrou insatisfação. “Não, não fui convidado, não fui chamado. Então acredito que o presidente julgou que era desnecessária a minha presença. Só isso.”

O distanciamento já sinaliza que o general não deve ser o candidato à reeleição à vice-presidente em 2022. Mas, para ele, a escolha de Bolsonaro se dará mais em um contexto de acordo político do que por relacionamento pessoal ou opiniões políticas divergentes.

“Agora essa questão da chapa, acho que está muito mais ligada a um acordo político do que a minha pessoa em si. Se eu fosse de um partido forte, pode ser que fosse necessária a minha presença, porque a eleição, polarizada como está desde esse momento, o presidente vai precisar de uma compoisição mais forte do a que o elegeu, que foi praticamente nenhuma em 2018, e consequentemente algum dos partidos que o apoiaram vai solicitar compor a chapa com o vice-presidente”, alegou.

O general cogita concorrer ao Senado em 2022, destacou que o martelo ainda não está batido e explicou como funcionaria a transição caso escolha ser candidato. “A lei eleitoral diz que vice, qualquer um deles, não precisa se desvincular para concorrer. Agora, se por acaso eu assumir a Presidência nos seis meses anteriores, aí eu tenho que sair.”

Apesar de sinalizar um afastamento do Palácio do Planalto, Mourão tentou blindar o governo ao dizer que todos da gestão estão sensibilizados com as mortes em decorrência da covid-19.

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“[Estou preocupado] E o presidente também. Ninguém no governo pode ficar ‘ah, está morrendo gente aí, não sou eu, não é meu filho, não é minha filha. Negativo. Está todo mundo aqui extremamente sensibilizado, chateado, triste com essas mortes. Todos, sem exceção do grupo que está no governo, perdeu alguém. Pode não ter sido da família, mas são amigos próximos de uma vida inteira que se foram. Quando a gente não está esperando é triste”, destacou.

Em entrevista recente dois dias após o país atingir a trágica marca de 500 mil vidas perdidas pelo coronavírus, o vice-presidente afirmou que o número é o “retrato da desigualdade” no país e “temos que corrigir”. 

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, nesta segunda-feira (21), que a marca de 500 mil mortos pela covid-19 é o “retrato da desigualdade socioeconômica” do Brasil. “Tem muita gente que tem tratamento melhor, tem gente que não consegue chegar ao hospital. É consequência da situação que a gente vive. Temos que corrigir”, disse.

CPI

Sobre a importância da CPI da Covid no Senado, Mourão voltou a criticar o foco da comissão, que em sua opinião ignora ações importantes na mitigação dos efeitos da pandemia.

“Estamos em plena luta contra essa pandemia, então, tem muita coisa ainda para ser feita. Não é só a questão da saúde, existem outras atitudes tomadas pelo governo que não estão sendo debatidas pela CPI que foram extremamente importantes para mitigar os efeitos da pandemia. Para socorrer a economia, as pessoas que trabalham, as empresas que produzem e a questão social, com recursos colocados na mão dos mais vulneráveis”, disse.

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