Exames feitos pela UBS Bom Jesus não eram analisados pelo laboratório
Divulgação/Secretaria de Saúde de Pelotas
O MP-RS (Ministério Público do Rio Grande do Sul) irá investigar supostas fraudes em exames de papanicolau em Pelotas, no Rio Grande do Sul. A denúncia, que foi encaminhada ao órgão na quinta-feira (11) à noite, se tornou um inquérito civil público.
A responsável pelo caso é a promotora Ângela Rotundo. De acordo com a assessoria de imprensa do MP-RS, as informações ainda são preliminares, mas o inquérito foi aberto para “recolher informações e investigar a questão”.
Entenda o caso
Médicos e enfermeiros da UBS (Unidade Básica de Saúde) Bom Jesus, na cidade gaúcha, que processavam a coleta de exame de papanicloau, o exame capaz de detectar câncer de colo de útero, perceberam uma redução muito grande no número de casos da doença. Entre janeiro de 2014 e junho de 2017 nenhuma mulher que fez o exame teve qualquer tipo de alteração identificada.
Uma tabela de exames da mesma unidade de saúde mostrou que antes desse período 44 resultados divulgados pelo mesmo laboratório apontaram câncer. Foi então que se descobriu que as amostras coletadas das pacientes estavam sendo analisadas por amostragem — a cada 100, somente uma era, de fato, analisada. Mesmo pacientes com lesões aparentes recebiam resultados de exames “normais”.
Outro lado
O laboratório que tem contrato com a Secretaria Municipal de Saúde e é responsável pelas análises, é o SEG – Serviço Especializado de Ginecologia, com sede em Porto Alegre. O R7 entrou em contato com a advogada que representa o laboratório, Christiane Ualt Fonseca.
Segundo a advogada, a proprietária do laboratório SEG não irá dar entrevista. Ela irá se manifestar sobre caso somente “através de nota de esclarecimento à população na segunda-feira”.
CPI vai investigar o caso
Um grupo de vereadores de Pelotas pretende apresentar na próxima terça-feira (17) um pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. De acordo com o vereador Ivan Durante (PT), o pedido já tem o apoio necessário para entrar em pauta sem votação – 1/3 da câmara. A CPI deverá se reunir pela primeira vez depois do recesso, que termina no dia 30 de julho.
O vereador considera a denúncia “bastante grave” e disse que, depois de levar o caso para o Ministério Público Estadual, ele e outros vereadores também pretendem apresentar denúncia no Ministério Público Federal, “pois trata-se de verba do Sistema Único de Saúde (SUS)”.
De acordo com o vereador, o laboratório tem contrato com a Secretaria Municipal de saúde e recebe os exames feitos em toda a rede de saúde da prefeitura.
“As médicas do posto [UBS Bom Jesus] começaram a notar que algumas mulheres já tinham feridas graves e mesmo assim o exame voltava como se estivesse tudo normal. A denúncia de uma enfermeira é que em um posto, faz 4 anos que ninguém tem câncer – isso é gravíssimo, imagina fazer exame de câncer por amostragem?”, diz o vereador.