Taxa de mortalidade gira em torno de 3%
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Embora o novo coronavírus surgido em Wuhan, na China, há cerca de um mês cause preocupação de autoridades e da população, ele tem se mostrado menos letal que vírus que provocaram epidemias anteriores.
O infectologista Filipe Piastrelli, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, afirma que os casos estão concentrados em populações mais velhas, e os pacientes mais vulneráveis são pessoas que já têm alguma doença prévia.
“O primeiro estudo em relação a esse novo vírus avaliou 49 casos e obteve uma idade de média de 49 anos. O último relatório da OMS [Organização Mundial da Saúde] mostrou que a idade média era de 45 anos. De qualquer maneira, os casos se concentram na população adulta de meia idade e idosos.”
A taxa de letalidade calculada com base nos últimos dados oficiais divulgados pelas autoridades locais é de 2,2%. A MERS (síndrome respiratória do Oriente Médio), outro tipo de coronavírus, possui taxa de mortalidade de 39%. O ebola chega a 60%.
Na epidemia de SARS (síndrome respiratória aguda grave), ocorrida na China devido a uma mutação de coronavírus, em 2003, quase 10% das 8.098 pessoas infectadas morreram.
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O médico explica que os 5.974 casos confirmados (com 132 mortes) até agora não aconteceram da noite para o dia e aponta um motivo para esse aumento.
“Quando o vírus surge, apenas os casos graves vão ao hospital. Uma vez que a doença ganha visibilidade, os casos leves e moderados começam a procurar os sistemas de saúde e acontecem mais diagnósticos.”
Ele acrescenta que os números aumentam exponencialmente porque vários casos suspeitos são confirmados de um dia para o outro.
“De ontem para hoje [terça-feira], praticamente dobrou o número de casos. Isto não significa que de um dia para o outro todas as pessoas foram infectadas. Até um caso suspeito ser confirmado pode levar alguns dias.”
Segundo Piastrelli, a maior parte das doenças infecciosas pode ser desenhada a partir de uma pirâmide, em que os casos mais graves se concentram na ponta, com menor número e os moderados e leves na base, em maior quantidade.
Risco de pandemia
Até o momento, casos têm ligação direta ou indireta com a cidade de Wuhan
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Piastrelli diz que ainda é muito cedo para dizer se teremos uma pandemia — epidemia se disseminando de maneira consistente por todo o planeta.
“O comportamento do vírus pode ser altamente variável, todo dia muda. A grande questão agora é conseguir fazer a contingência nas cidades já afetadas e evitar que vá para outras cidades.”
O infectologista João Prats, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, avalia que a rápida resposta dos países aos casos pontuais pode evitar uma possível pandemia.
“Precisamos tratar como se fosse virar [uma pandemia], mas por enquanto, todos os casos tiveram algum tipo de contato com Wuhan, mesmo que indiretamente.”
A cidade chinesa de 11 milhões de habitantes, assim com outras, estão em quarentena desde a semana passada. Transportes, incluindo viagens de trem e voos, foram suspensos por tempo indeterminado e as pessoas são orientadas a evitar sair de casa.
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Prats explica que para ser considerada uma pandemia, é necessário que tenha uma transmissão sustentada, ou seja, que aconteça transmissão entre pessoas que não tiveram contato com ninguém que esteve na cidade onde se iniciou a infecção.
Os casos de transmissão de pessoa para pessoa fora da China aconteceram no Japão e na Alemanha. No Japão, um motorista que transportou um grupo de viajantes de Wuhan foi diagnosticado. Na Alemanha, o rapaz contaminado teve contato com uma colega chinesa que havia estado na região.
Densidade populacional e cultura
Mercado de animais vivos é apontado como origem do vírus
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Os médicos afirmam que a densidade populacional da China e a cultura alimentar local contribuíram para a fácil proliferação da doença.
“O coronavírus normalmente está naturalmente presente em animais e sofre uma mutação que permite com que ele infecte humanos. Como lá a manipulação de animais vivos é muito comum nos mercados, isso fica facilitado”, observa Prats.
Os primeiros casos do novo coronavírus foram de pessoas que trabalhavam ou frequentavam um mercado de frutos do mar e animais vivos em Wuhan. O local foi interditado e desinfetado.
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Outro fator levantado por Piastrelli é o fato ser inverno no hemisfério norte. O frio faz com que as pessoas fiquem mais tempo em ambientes fechados e com aglomeração, o que pode facilitar a transmissão.
Na opinião de Prats, a epidemia deve crescer ainda, mas provavelmente será contida antes de se tornar uma crise global.
Piastrelli entende que o mundo está mais preparado para lidar com esse vírus, já que a transmissão de informações está mais eficiente.
Além disso, devido a um passado recente de epidemias de doenças respiratórias, as instituições se mostram experientes com tempo de resposta mais rápido.
Por outro lado, ele enfatiza que o grande trânsito de pessoas no mundo, que era menor no passado, pode facilitar a transmissão.
*Estagiária do R7 sob supervisão de Fernando Mellis