Apesar de aprovação nos Estados Unidos, remédio ainda não tem data para chegar ao Brasil
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Depois de 18 anos sem um novo remédio para a doença de Alzheimer, o FDA (Food and Drug Administration), órgão que regulamenta medicamentos nos Estados Unidos, aprovou o Aducanumab, que será comercializado com o nome de Aduhelm. Desenvolvido pelo laboratório Biogen, ele interfere no processo de perda cognitiva em casos iniciais da doença.
O Alzheimer é uma doença progressiva, sem cura, que se desenvolve de forma insidiosa, com perda da memória e piora do desempenho das funções do dia-a-dia, conforme descreve o neurologista Gustavo Melo.
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“A doença de Alzheimer é uma doença que gera uma incapacidade enorme para o indivíduo, familiares e para a sociedade em geral. É uma condição que limita não só o paciente, mas também uma rede de pessoas que estão ligadas ao cuidado dele”, afirma.
Ele ressalta que a tendência é que a prevalência da doença aumente muito nos próximos anos com o envelhecimento da população. O Brasil possui cerca de 1 milhão de pessoas com Alzheimer, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Não só os pacientes e familiares, mas toda a comunidade científica e médica anseia por um tratamento que interfira no curso da doença, tornando-a mais lento ou, na melhor das hipóteses, interrompendo a progressão dos sintomas”, diz.
Um dos fatores que leva ao declínio cognitivo progressivo do Alzheimer é o depósito da proteína B amilóide no cérebro, de acordo com o Manual Merck de Medicina. Melo explica que esse novo medicamento age contra o acúmulo dessa proteína.
“Já se sabe que a doença de Alzheimer possui diversos mecanismos patológicos, no entanto um deles parece ter um papel relevante na apresentação da doença. Esse mecanismo patológico que estou falando é o acúmulo de placas B amiloides no cérebro. Um anticorpo que atue contra os emaranhados de proteína B amilóide, teoricamente, age evitando o depósito e a ‘intoxicação’ do cérebro por estas placas”, explica.
O médico afirma que o remédio é indicado para casos iniciais do problema porque foi testado nesse estágio. “A doença é considerada um continuum, ou seja, ao longo dos anos ela vai apresentando estágios. Podemos resumir da seguinte forma: existe uma fase pré-clínica em que o paciente tem a patologia instalada no cérebro, mas ainda não apresenta sintomas. Isso pode acontecer de 10 a 15 anos antes do início dos sintomas. A outra, seria a fase clínica, em que o paciente começa a apresentar sintoma. De uma maneira geral, na demência pela doença de Alzheimer, os sintomas iniciam-se com queixas sutis relacionadas à memória, como pequenos esquecimentos na rotina”, esclarece.
O neurologista diz que ainda não há previsão de o medicamento chegar ao Brasil. O remédio deve ser avaliado e aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O tratamento anual custa em torno de US$ 56 mil (equivalente R$ 282 mil), segundo publicado pelo jornal norte-americano The New York Times.
A última aprovação de um remédio para a doença no Brasil data de 2003. “É uma doença complexa em que os mecanismos fisiopatológicos que provocam o adoecimento são diversos e consequentemente dificultam a ação terapêutica por uma só via”, explica Melo.
Embora aprovado nos Estados Unidos, o medicamento foi alvo de polêmica. Durante os estudos, o remédio não apresentou efeito o que levou à interrupção dos ensaios clínicos. O fabricante retomou a pesquisa e apresentou resultados positivos.
“Acredito que a polêmica na aprovação existe devido ao fato de ter acontecido uma reanálise dos dados do estudo, o que foi muito questionado e também pelo fato de tratar-se de uma aprovação acelerada que exige ainda uma observância detalhada e séria de como serão os desfechos clínicos nas próximas pesquisas. Inclusive, o FDA sugere uma fase 4 dos ensaios clínicos que permitam observar estes resultados”, finaliza o médico.
*Estagiário do R7 sob supervisão de Deborah Giannini