Profissional de educação sendo vacinado em Limeira, interior de São Paulo
ROBERTO GARDINALLI/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO – 14.4.2021
Nesta semana, o Ministério da Saúde alertou que cerca 1,5 milhão de brasileiros que receberam a primeira dose da vacina contra a covid-19 não voltaram para o reforço da imunização.
Especialistas explicam que essa escolha pode trazer prejuízos individuais e coletivo no controle da epidemia no Brasil.
O epidemiologista Eliseu Alves Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública, da USP, afirma que a eficácia da vacina é menor sem as duas doses.
“Algum grau de imunidade todos terão, mas a proteção e eficácia não é a mesma que seria conferida com as duas doses. A própria duração da imunidade pode ser reduzida. Mesmo que ainda não tenhamos os estudos concluídos do tempo de imunidade, a falta de duas doses causa impacto”, afirma o médico.
O próprio ministro Marcelo Queiroga fez um apelo às pessoas, no lançamento da vacina contra a gripe, na última segunda-feira.
“É preciso que aqueles que não tomaram a segunda dose, procurarem os postos de vacinação e se vacine. Só assim conseguiremos controlar essa crise sanitária.”
Waldman também acredita que tenha um impacto na crise e explica que acaba sendo normal a queda de adesão em campanhas de vacinação com mais de uma dose.
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“Tem um impacto geral, mesmo que seja difícil mensurar efetivamente. Infelizmente, nas campanhas de vacinação de mais de uma dose, existem perdas de adeptos a partir da primeira dose. Isso é esperado”, disse ele.
E completa sobre a falta de explicação correta do funcionamento das vacinas. “Acho que falta muito uma campanha de divulgação efetiva por parte dos governos que se explique para a população qual é o funcionamento da vacina, como deve ser a dosagem”, reclama o epidemiologista.
A infectologista Keilla Freitas, do Hospital Sírio-Libanês e diretora da clínica Regenerati, avalia que as pessoas se sentem imunizadas após primeira dose.
“As pessoas estão com a falsa sensação de segurança e acabam ficando doentes antes. Na prática, verificamos idosos com covid antes de tomar a segunda dose, ou pouco após a segunda dose. O que mostra que a pessoa se infectou entre as duas doses. Temos casos graves e, inclusive, casos de óbitos”, conta a especialista.
Mesmo quem já foi infectado com o SARS-CoV-2 deve tomar as duas doses da vacina, seja qual for o imunizante: CoronaVac ou Oxford, os dois que estão sendo aplicados no Brasil.
Keila Freitas indica que é imprescindível a vacinação, mas respeitando distanciamento entre o fim da doença e a imunização.
“Paciente que pegou covid deve tomar a vacina após um mês da cura. Isso porque resposta vacinal está diretamente relacionada à capacidade de resposta do sistema imune. Se estou com o sistema com debilidade, não vou ter a melhor resposta que poderia ter à vacina”, explica a médica.
A médica acrescenta que, no caso de quem foi infectado entre uma dose e outra, não há problema em esperar um período maior do que o indicado.
“O importante é o organismo estar recuperado para conseguir reagir bem ao imunizante”, recomenda.
Vacinação correta não é o fim da prevenção
Os dois especialistas ouvidos pelo R7 são taxativos ao dizer que a vacinação, mesmo que atingindo mais gente, não vai dispensar o uso de máscaras, a restrição de aglomerações e higienização das mãos.
“Por mais que tenha menor chance de ter um caso grave da doença, ela ainda pode se infectar e transmitir infecção para uma pessoa que ainda não tomou a vacina, ou já teve, mas não está imunizado ou até de pessoas que estão entre as duas doses”, salienta Keila.
O professor da USP alerta, ainda, que a covid surgiu por causa das pessoas e que o mundo dificilmente será o mesmo.
“A vacina só não segura. Precisa ter mais vacina, para acelerar o processo, e todas as medidas de prevenção. Nada indica que seja verdadeira a afirmação: quando vacinarmos todo mundo, estamos resolvidos e todo volta ao normal. Precisaremos seguir com as medidas de prevenção. Não foi a covid que trouxe o novo normal, e sim o novo normal que trouxe a covid”, diz o epidemiologista.
E explica: “Novas doenças devem surgir, depois do aumento da população do mundo e da forma como vivemos no mundo. Teremos de usar os ensinamentos da covid, no futuro”, finaliza Waldman.