Os primeiros sintomas podem ser confundidos com resfriado
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Um vírus que em adultos causa apenas um resfriado, mas em crianças pequenas, especialmente em bebês, pode levar a quadros graves de infecção respiratória. Estamos falando do vírus sincicial respiratório (VSR), que causa bronquiolite e pode levar à morte.
O número de casos aumentou consideravelmente no último mês em São Paulo. Tanto, que obrigou o Hospital Infantil Sabará, no bairro de Higienópolis, a fechar as portas do pronto-socorro por causa da superlotação na última segunda-feira (23).
Nesta terça-feira (24), 106 crianças estão internadas no hospital. Esta é a capacidade máxima de leitos para internação, somados aos leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
Outras 23 crianças estão no pronto-socorro aguardando a liberação de leitos. O PS tem capacidade para 14 crianças, por isso precisou ser fechado até que a situação seja controlada, que algumas crianças possam receber alta para dar espaço a outras.
Entre as crianças internadas, 71 apresentam quadro de infecção respiratória, das quais 40 foram diagnosticadas com bronquiolite. Os outros casos receberam diagnósticos diferentes entre asma, bronquite ou pneumonia.
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O que é VSR e bronquiolite?
O vírus sincicial respiratório não tem relação com o grupo de vírus chamado influenza, mas também causa infecção respiratória. A diferença é que em adultos, o VSR não costuma ser grave, causa apenas um resfriado leve. Em crianças a situação pode ser bem diferente, especialmente nas menores de dois anos.
Nas crianças, a infecção por VSR pode evoluir para uma bronquiolite, que é a inflamação dos bronquíolos – tubos muito pequenos, com menos de 1 milímetro de espessura, que ficam dentro do pulmão e tem a função de transportar o ar até os alvéolos pulmonares.
O pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que por muitas vezes não perceber os sintomas, o adulto acaba sendo o principal transmissor do VSR para a criança.
“Muitas vezes a criança é infectada pelo vírus sincical respiratório por causa do irmão mais velho, do pai, da mãe ou de um adulto que costuma frequentar a casa e não percebe que está com um resfriado. Isso acontece porque, ao longo da vida, nos infectamos várias vezes com este vírus e a cada infecção os sintomas ficam mais leves”, explica.
Entre os vírus que podem acometer as crianças, o VSR é o mais comum nos primeiros anos de vida. Estima-se que, até os 2 anos, 100% das crianças vão ser expostas a ele, mas apenas 10% vão desenvolver uma doença sintomática e uma porcentagem muito pequena vai chegar a uma forma grave que precisa de hospitalização.
“O problema é que estamos falando de uma porcentagem pequena do total de todas as crianças, por isso os números de hospitalizações nesta época costumam ser altos”, alerta Kfouri.
A infecção pelo VSR costuma anteceder às infecções pelo vírus influenza. Ou seja, o número de pacientes internados por VSR é maior entre os meses de fevereiro e abril, enquanto que a influenza começa a fazer mais vítimas a partir de abril e maio.
O vírus sincicial respiratório também sofre variações de um ano para o outro. Por isso, em alguns anos o número de infecções diminui e os sintomas são mais leves, enquanto que em outros ele ganha força e faz mais vítimas graves.
Sintomas e grupo de risco
Nos primeiros dias de infecção, os sintomas da bronquiolite podem ser confundidos com um resfriado.
O pediatra Felipe Lora, gerente do pronto-socorro do Hospital Infantil Sabará, explica que a doença começa a se manifestar com sintomas como febre, corisa e obstrução nasal.
“O quadro começa a mudar a partir do terceiro dia, quando a inflamação nos bronquíolos começa a impedir a passagem de ar. As crianças começam a ficar cansadas, a ter dificuldade para respirar. Precisam fazer força para o ar chegar aos pulmões, por isso, durante a respiração, a barriguinha afunda e os músculos do pescoço também. Quando isso acontece os pais precisam procurar um pronto-socorro”, explica Lora.
A evolução do quadro pode ser complicada, especialmente em crianças com menos de seis meses, que acabam precisando de internação na UTI porque ainda não têm um sistema imunológico maduro e possuem uma capacidade muscular menor – não conseguem fazer força para respirar, nem usar músculos acessórios da barriga e do pescoço para ajudar no processo.
Existe um grupo que tem risco maior de desenvolver uma bronquiolite por infecção de VSR, são as crianças que tiveram nascimento prematuro, que possuem doenças cardíacas ou doenças pulmonares.
Não existe vacina contra o VSR, mas, para este grupo, existe um medicamento pode ajudar a proteger contra a infecção. É um anticorpo que fortalece o sistema imunológico. Mas, o pediatra Felipe Lora destaca que é um medicamento de uso específico e a necessidade precisa ser discutida com o médico.