Até o momento, 14 casos de toxoplasmose foram confirmados na cidade
André Campos/Prefeitura de Santa Maria

Santa Maria, no Rio Grande do Sul, está enfrantando um surto de toxoplasmose, que também é chamada de doença do gato. A informação foi confirmada nesta tarde pelo prefeito Jorge Pozzobom.

Em entrevista à imprensa nesta quinta-feira (19), ele pediu que a população tenha calma. “Foi criado uma espécie de terrorismo que não é verdadeiro”, alertou.

De acordo com a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, até o momento, foram registrados 60 casos suspeitos de toxoplasmose na cidade e 14 foram confimados pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS).

Este número pode ser maior. Desde março, o CEVS, a 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e os profissionais da saúde da área pública e privada do município investigam um aumento no número de casos com quadro de febre, dores no corpo e na cabeça e cansaço, inicialmente, sem causa definida. O número de pessoas atendidas com esses sintomas nas redes de saúde pública e privada da cidade pode passar de 600.

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Causa está sendo investigada

Nos últimos dias, cresceram as especulações sobre as causas do surto na cidade. Uma das possibilidades levantadas foi a contaminação pela água encanada, que no Estado é distribuída pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan).

Na quarta-feira (11), a Corsan chegou a publicar uma nota na qual garante a qualidade da água no município. “A água tratada e distribuída à população de Santa Maria atende todos os parâmetros de potabilidade exigidos pela legislação e pode ser consumida sem qualquer receio, não possuindo assim relação com a recente notícia de surto”, informa.

A Secretaria Estadual da Saúde informou que uma investigação está sendo feita para que a causa da contaminação possa ser determinada.

De acordo com a parasitologista Marilise Brittes Rott, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), uma das possibilidades de infecção seria a ingestão de água contaminada com estruturas que se formam no intestino dos gatos e são eliminados pelas fezes. “O protozoário que causa a doença, o Toxoplasma gondii pode ser encontrado no epitélio intestinal dos gatos”, explica.

Carne crua ou mal cozida pode ser fonte de contaminação
Reprodução / iSaúde

Além da água, a contaminação pode ocorrer por meio da ingestão de carne crua ou malcozida infectada, especialmente carne de porco, carneiro e aves, ou com hortaliças mal lavadas.

O tempo entre o contágio e o aparecimento dos primeiros sintomas varia, dependendo da forma de contaminação. No caso de ingestão de carne contaminada, pode levar de 10 a 23 dias. No caso de contaminação por fezes de gatos, pode levar de 5 a 20 dias.

Não se transmite diretamente de uma pessoa a outra, com exceção das infecções intrauterinas. Os oocistos expulsos por felídeos esporulam e se tornam infectantes depois de 1 a 5 dias, podendo conservar essa condição por 1 ano.

Sintomas da toxoplasmose

Os sintomas podem variar de um paciente para o outro. Vão desde sintomas inespecíficos como febre baixa até aumento do volume dos gânglios e manchas avermelhadas muito sutis pelo corpo – tão sutis que podem passar despercebidas.

Se a pessoa estiver com o sistema imunológico debilitado, os sintomas podem ser mais fortes, como febre alta, dor nas juntas, dor no corpo, aumento do baço e do fígado, problemas de audição, convulsões e confusão mental.

A toxoplasmose tende a ser uma doença mais benigna nos adultos, mesmo assim, pode acontecer de causar infecção nos olhos, toxoplasmose ocular, que pode causar cegueira.

De acordo com o médico infectologista Jean Gorinchteyn, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo, as complicações mais graves podem acontecer no sistema neurológico.

“A neurotoxoplasmose, não costuma acontecer em uma exposição primária, mas sim nas pessoas que já tiveram uma vez ou em casos de baixa imunidade, em pacientes transplantados, que usam imunossupressores ou com HIV positivo”, explica.

Toxoplasmose na gravidez

Toxoplasmose pode causar aborto
Pixabay

A contaminação durante a gravidez é considerada de alto risco porque pode infectar o bebê. De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, 40% dos fetos de mães infectadas pegam a doença por meio da placenta.

De acordo com o infectologista Jean Gorinchteyn, se a infecção acontecer no primeiro trimestre, principalmente nas primeiras semanas, quando existe a formação dos órgãos do feto, pode causar o aborto.

“À medida que esta gestação vai evoluindo, especialmente no segundo trimestre, podem ocorrer alterações no feto como aumento do fígado e do baço, calcificações no cérebro e nos olhos, podendo levar, não só a alterações na morfologia, como a alterações neurológicas. Problemas tão importantes que podem fazer com que a criança não consiga sobreviver mais do que poucos dias ou poucas semanas”, alerta o médico.

A partir do terceiro trimestre de gravidez, a infecção por toxoplasmose pode passar de forma imperceptível. A criança pode nascer bem mas desenvolver alterações neurológicas que podem ser identificadas apenas tardiamente, quando vai para a escola e apresenta dificuldades de aprendizado e outros problemas no desenvolvimento psicomotor.

O médico alerta sobre a importância de se fazer um exame sorológico para toxoplasmose antes de engravidar ou logo no início da gravidez. “O ideal é a repetição deste teste a cada dois meses da gestação porque, se ele vier negativo e positivar em algum momento, existe um tratamento que pode diminuir bastante a chance destas alterações”, explica Gorinchteyn.

Prevenção da doença

De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, existem formas de evitar a contaminação. A principal é evitar o consumo de carnes cruas ou malcozidas, comer apenas vegetais e frutas bem lavados em água corrente e evitar contato com fezes de gato.

As gestantes, além de evitar o contato com gatos, devem submeter-se a adequado acompanhamento médico (pré-natal). Alguns países obtiveram sucesso na prevenção da contaminação intrauterina fazendo testes laboratoriais em todas as gestantes.

Em pessoas com deficiência imunológica a prevenção pode ser necessária com o uso de medicação, dependendo de uma análise individual de cada caso.

 

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