Polícia encontrou soro fisiológico e vacina de gripe na casa da falsa enfermeira
Divulgação / PF
O Ministério Público Federal informou que os vacinados contra a covid-19, na garagem da empresa Coordenadas, ligada ao Grupo Saritur, em Belo Hoizonte, no último dia 23 de março, pela cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, podem ser liberados de responder a processo, caso os imunizantes sejam falsos.
A afirmação foi feita à reportagem pelo procurador Carlos Henrique Dumont Silva, responsável pelo caso. Ainda segundo Silva, caso as vacinas sejam verdadeiras, os imunizados podem ser denunciados criminalmente. Como as investigações ainda estão em curso, o procurador prefere não indicar todos os crimes nos quais estas pessoas podem ser enquadradas, mas cita alguns.
— Nesta hipótese, eles estariam adquirindo a vacina que foi conseguida de forma ilegal e poderiam ter ciência disto. Assim, é preciso saber a origem das doses para identificar se foram fruto de receptação no Ministério da Saúde ou de importação ilegal. Isso, no entanto, pode ser retirado caso provem que as vacinas são falsas.
Silva detalha que para estas pessoas se livrarem do processo, elas não podem ter qualquer outro envolvimento com o caso. Assim, elas poderiam ser classificadas como vítimas de Cláudia ou outra pessoa que for apontada como responsável pelo esquema de vacinação.
Devido ao sigilo da investigação, o procurador não pode comentar a situação de cada um dos investigados e testemunhas. Silva explica, todavia, que pode haver variações de denúncias contra eles, caso sejam comprovados os crimes.
— A investigação ainda tem que andar mais. Tem que descobrir como ela [a falsa enfermeira] conseguiu os clientes.
A legislação brasileira prevê, além de multa, prisão de um a quatro anos para crimes de receptação e de 10 a 15 anos para casos de importação de medicamentos sem registro.
Até o momento, a polícia não encontrou doses de vacinas contra a covid-19 com cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, que se passou por enfermeira para aplicar e vender os supostos medicamentos. Na casa dela foram achadas vacinas de gripe e soro fisiológico.
Nesta segunda-feira (7), duas pessoas que teriam sido vacinadas por Cláudia entregaram à PF exames indicando que elas não estariam imunizadas, o que aumenta as chances dos produtos serem falsos. Os testes feitos espontaneamente em um laboratório particular serão periciados.
Mentores
Os investigadores ainda trabalham para descobrir quem é, de fato, o mentor do esquema. A cuidadora de idosos Cláudia Mônica Pinheiro Torres de Freitas, que se passou por enfermeira para aplicar e vender as doses, ficou em silêncio durante o depoimento.
Uma das suspeitas da Polícia Federal é que os empresários Rômulo e Robson Lessa tenham organizado o “drive-thru de vacinação” na garagem de uma empresa de ônibus em Belo Horizonte, nos dias 22 e 23 de março. Vídeos obtidos pelo R7 mostram Cláudia no local, vestida de jaleco branco, aplicando o que parece ser uma vacina.
Em depoimento, Rômulo confirmou que comprou o medicamento com a mulher, temendo por sua saúde após passar por uma cirurgia.
O empresário afirmou que conseguiu o contato da falsa enfermeira com o amigo, Marcelo Martins Araújo, dono de um haras na Grande BH.
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O advogado de Araújo disse à reportagem que o cliente confirmou à polícia que “comentou” sobre a vacinadora com Lessa, mas negou “ter feito qualquer indicação sobre a qualidade e idoneidade da Sra. Cláudia ou das supostas vacinas por ela aplicadas”.
Araújo, que mora em um prédio de luxo no bairro Gutierrez, na região Oeste de Belo Horizonte, também relatou aos delegados que comprou a vacina com Cláudia, pensando ser imunizante da Pfizer. Vídeo divulgado pela rádio Itatiaia mostram Cláudia entrando no edifício no início do mês.
Os irmãos Lessa disseram aos delegados que aproximadamente 80 pessoas foram vacinadas na garagem de ônibus. No entanto, segundo a PF, Cláudia teria aplicado a suposta vacina em centenas de pessoas, considerando os “atendimentos” feitos em apartamentos e casas de bairros nobres da capital mineira. A reportagem procurou a defesa da investigada, mas aguarda retorno.
A disseminação da vacinação ilegal chamou atenção do procurador Carlos Henrique Dumont Silva, do MPF (Ministério Público Federal, que deixa um alerta.
— Toda situação tem chamado bastante atenção da sociedade. São empresários se valendo do poder econômico para sair na frente e serem vacinados. A população tem que ficar atenta. Se aparecer alguém oferecendo a vacina da covid-19 no Brasil hoje ou ela é produto do crime ou ela é falsa. Não tem outro caminho.
Atualmente, a legislação brasileira não autoriza a aplicação de vacinas contra o coronavírus na rede privada. Até que os grupos prioritários sejam imunizados, todas as doses compradas pela iniciativa particular devem ser doadas ao SUS (Sistema Único de Saúde).