Até a última sexta (23), foram aplicadas 28.431 doses em moradores de rua acima de 18 anos
Estadão Conteúdo / Cris Fraga / 20.07.2021

A cidade de São Paulo já imunizou mais de 60% da população de rua da capital contra a covid-19, estima a Prefeitura. Até a última sexta-feira (23), foram aplicadas 28.431 doses de vacina anticovid em pessoas em situação de rua acima de 18 anos.

Do total, 14.952 já estão com imunização completa, ou seja, receberam duas doses ou dose única. Da conscientização sobre a importância de se vacinar à distribuição de ‘kits recompensa’, entidades da capital paulista se mobilizaram para auxiliar a população de rua a se vacinar.

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O parâmetro para a estimativa da Prefeitura é um censo realizado em 2019 pela empresa Qualitest Ciência e Tecnologia Ltda, que contabilizou 24.344 pessoas em situação de rua em São Paulo. Por se tratar de uma população itinerante, no entanto, é difícil estimar uma porcentagem exata.

Para o articulador de ações do movimento Rede Rua e conselheiro no Comitê PopRua, Alderon Costa, esse número pode ter aumentado nos últimos anos. Um indicativo disso, diz, é o fato de que a quantidade de pessoas em situação de rua no Cadastro Único do governo já ultrapassa os 30 mil. Fosse esse o parâmetro, cerca de metade dessa população teria sido completamente vacinada.

A iniciativa foi comemorada por entidades como o MEPSRSP (Movimento Estadual da População em Situação de Rua de SP), que realizou na manhã do último dia 12 um evento de vacinação contra a covid na sede do movimento, localizada na região central de São Paulo. Foram distribuídos 89 kits para quem se vacinou no local.

“Algumas pessoas começaram resistentes, mas foi bem bacana”, conta o presidente da entidade, Robson Mendonça. Segundo ele, uma das maiores dificuldades foi explicar aos interessados que, mesmo que acabassem bebendo álcool depois que fossem imunizados, isso não geraria maiores complicações de saúde.

Para quem se dispôs a se vacinar, o procedimento foi simples: uma equipe da Prefeitura de São Paulo foi à sede do movimento e, por meio de um computador disponibilizado pelo MEPSRSP, consultou se as pessoas que estavam na fila já tinham recebido atendimento no Cras (Centro de Referência de Assistência Social) e na rede do SUS (Sistema Único de Saúde). Já ter tomado algum imunizante, por exemplo, era um critério eliminatório.

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Aqueles que passaram na triagem foram vacinados com o imunizante da Janssen na própria sede e levaram um entre os três kits disponíveis: um destinado a homens, outro a mulheres em geral e um terceiro a mulheres com crianças pequenas. Segundo Mendonça, o evento foi considerado um sucesso e deve ter uma nova edição, mas ainda não há data definida.

Outro movimento da capital, a Rede Rua já havia promovido, nos dias 15 e 22 de junho, dois eventos para auxiliar na vacinação de pessoas em situação de rua. Em cada ocasião, foram vacinadas, respectivamente, 55 e 48 pessoas, também com o imunizante da Janssen. A vacinação funcionou como uma espécie de sobremesa, já que o evento foi montado no Sindicato dos Bancários de São Paulo local onde a Rede Rua distribui almoço diariamente, e buscou atrair pessoas após as refeições. Como é um local onde a população de rua frequenta e já conhece, acabou dando certo.

Coordenado por Darcy Costa, o MNPR (Movimento Nacional da População de Rua) busca se ater justamente a ações que atendem reivindicações como essas. A iniciativa de destinar parte dos imunizantes da Janssen para a população de rua, por exemplo, partiu em resposta a pedidos feitos por grupos como o MNPR. “O movimento tem feito várias articulações junto ao Conselho Nacional de Saúde, Defensoria Pública e Executivo”, explica. Não à toa, o MNPR já foi citado inclusive na nota técnica 768/2021 do Ministério da Saúde, que orienta sobre a vacinação para a população de rua.

Darcy destaca que o grupo já teve algumas conquistas, mas ainda há mais para reivindicar. Para ele, mesmo que boa parcela dos imunizantes da Janssen tenham sido destinados à população de rua atendendo a pedidos por um imunizante de dose única para grupos itinerantes, ainda não há uma campanha específica que instrua sobre a importância de se vacinar. E isso acaba sendo uma lacuna.

“Eu acho que algo que é importante neste momento é que a Prefeitura faça uma campanha direcionada para a população de rua incentivando as pessoas a irem se vacinar”, diz o articulador. “É um direito que eles conquistaram. Às vezes, a pessoa vai na UBS e pode encontrar resistência. Muitas vezes, se a pessoa toma um banho, já acham que não pode ser classificada como pessoa em situação de rua.”

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