Com maior risco de morte para covid, idosos ainda estão sem data de vacinação
Will Oliver/EFE/EPA
O cancelamento da data de vacinação em idosos contra a covid-19, a partir de 8 de fevereiro, que constava no plano de imunização do Estado de São Paulo, e uma indefinição de um calendário nacional pelo Ministério da Saúde, tem causado ansiedade nesse grupo, que apresenta maior risco de morte pela doença – corresponde a 75% dos óbitos por covid-19 no país, de acordo com um estudo publicado no periódico médico Lancet Respiratory Medicine.
“Falta amor aos idosos, de respeito ao ser humano em si, principalmente a quem é um pouco mais velho. Falam que os idosos precisam ser vacinados, mas não determinam quando. Os idosos institucionalizados estão sendo vacinados, mas quem não está dentro de um asilo como fica? Por que não dão prioridade a todos os idosos? É um sofrimento desnecessário”, diz a aposentada Margarida de Souza, 74.
A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo afirma que as datas que haviam sido determinadas para a vacinação desse grupo – 8 de fevereiro para maiores de 75 anos; 15 de fevereiro entre 74 e 70 anos; 22 de fevereiro entre 69 a 65 anos; e 1º de março entre 64 e 60 anos – foram canceladas e, como as vacinas que estavam destinadas a essa imunização foram incorporadas ao plano nacional de vacinação, quem deve estipular agora as novas datas é o Ministério da Saúde. “As datas serão as mesmas para todo o Brasil, não existe mais uma calendário estadual”, afirmou, por meio da assessoria de imprensa.
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O Ministério da Saúde afirma que ainda não há datas definidas, pois esse cronograma depende da disponibilidade de vacinas. O infectologista Renato Kfouri, primeiro-secretário da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) e membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, explica que a indefinição das datas de vacinação dos idosos está relacionada ao atraso da chegada de doses prontas e de insumos (matéria-prima) para a produção dos imunizantes no país.
“O problema da previsão da vacinação em idosos é essa incerteza ainda em relação à chegada das doses, dos insumos. A previsão seria em fevereiro recebermos a quantidade de insumos suficientes para produzir de 10 a 15 milhões de doses no Butantan e começar também a produção da vacina de Oxford por meio da Bio-Manguinhos, mas está atrasado. A disputa pelos insumos e pelas doses prontas está muito grande no mundo”, afirma.
“Mas, se tudo correr bem, poderemos contar com 100 milhões de doses da vacina de Oxford e 40 milhões da CoronaVac no primeiro semestre. Com esses 140 milhões de doses, vacinaríamos 70 milhões de pessoas, o que dá para incluir praticamente todos os idosos e portadores de comorbidades”, acrescenta.
Idosos institucionalizados e seus cuidadores, profissionais de saúde, pessoas a partir de 18 anos com deficiência, que vivem em residências inclusivas, e indígenas estão no primeiro grupo que já vem sendo vacinado desde domingo (17), quando o uso emergencial da CoronaVac e da vacina de Oxford foi aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). “Dentro do público priorizado para a campanha foi feito um recorte, levando em consideração pessoas que teriam maior risco de internação e óbito, bem como o quantitativo de vacina disponibilizado inicialmente”, informou o ministério, por meio de nota.
A secretaria orienta que idosos não procurem postos de saúde atrás de vacinas contra a covid-19 e aguardem a divulgação da data pelo Ministério da Saúde e dos locais de vacinação por cada município. “As vacinação está sendo realizada nos hospitais onde esses profissionais de saúde trabalham, nas instituições e nos locais de moradia dos indígenas e não em postos de saúde”, explica a pasta.
A vacina que está sendo aplicada nesses grupos é a CoronaVac, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, já que a vacina de Oxford, desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca, ainda não havia chegado ao país no início da vacinação, mas ela também será incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Segundo o ministério, o Brasil tem mais de 354 milhões de doses de vacinas garantidas este ano por meio de acordos com a Fiocruz (254 milhões de doses), Butantan (100 milhões de doses) e Covax Facility (42,5 milhões de doses).
Idosos a partir de 75 anos são os próximos na lista de vacinação, que deve seguir a mesma lógica que havia sido estabelecida pelo plano estadual de São Paulo, segundo o infectologista.
O tipo de vacina utilizada para os idosos vai depender da quantidade de doses disponíveis de cada, segundo Kfouri. “No Programa Nacional de Imunizações ficou estabelecido que, em princípio, nas regiões mais distantes, principalmente na região Norte do país, será usada a vacina de Oxford devido ao intervalo maior entre as doses”, afirma Kfouri. O intervalo entre as doses da CoronaVac é de 28 dias e da vacina de Oxford, de três meses.