Empresários Luciano Hang (à esq.) e Carlos Wizard entregaram abaixo-assinado ao Congresso
Divulgação
Em campanha para convencer o governo federal a permitir a vacinação de seus funcionários, o empresário Carlos Wizard, fundador da escola de idiomas, trava uma luta nos bastidores do Palácio do Planalto.
O controlador da holding Sforza defende a flexibilização da lei que impede a iniciativa privada de comprar e imunizar trabalhadores contra a covid-19 imediatamente.
Ao lado de Luciano Hang, proprietário da Havan, Wizard classifica a Lei 14.125, sancionada em 10 de março de 2021 pelo presidente Jair Bolsonaro, de “inócua e inconstitucional”.
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A norma prevê que empresas até podem adquirir diretamente vacinas que tenham autorização temporária para uso emergencial e registro da Anvisa. Porém, devem ser integralmente doadas ao SUS (Sistema Único de Saúde), para serem utilizadas no âmbito do PNI (Programa Nacional de Imunizações).
Só depois de terminada a imunização dos grupos prioritários (idosos, povos indígenas, profissionais da saúde, entre outros) os empresários poderão adquirir, distribuir e administrar vacinas em seus colaboradores. Mas com uma ressalva: desde que pelo menos 50% das doses sejam doadas ao SUS e as demais sejam utilizadas de forma gratuita.
“São quase 78 milhões de brasileiros dos grupos prioritários que precisam ser vacinados. Quanto tempo levará para o SUS fazer toda essa imunização? A resposta que tive: cinco a seis meses”, relatou Wizard em entrevista ao R7.
“Defendemos autonomia, liberdade, trabalho concomitante ao empenho do SUS. Queremos trazer saúde”, disse. “Entendemos que a solução da crise sanitária são as vacinas. A partir do momento que você vacina, você destrava a economia, a educação, o turismo, o entretenimento, as igrejas, os esportes… O foco na solução encampa qualquer projeto para viabilizar [vacinas], obviamente, no tempo mais breve possível.”
Idosos fazem fila para receber vacina contra a covid-19, em Belford Roxo, no Rio de Janeiro
Ricardo Moraes/Reuters – 31.03.2021
Na semana passada o empresário foi a Brasília, junto com o colega Hang, para entregar um abaixo-assinado aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco [DEM-MG], além de ministros, pedindo mudança na legislação. O gesto contempla o rol de ações para rechaçar o rótulo de que o grupo quer furar a fila da vacinação, obtendo privilégios em relação ao restante da população brasileira.
“Lamento. Quem critica [a vacinação de funcionários de empresas paralelamente à campanha do SUS] esquece que estamos perdendo 3.000, 4.000 vidas por dia. São 100 mil mortes por mês. Nem em uma guerra perde-se tanto”, dispara.
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Se eu consigo antecipar [a vacinação], vou poupar vidas. Ninguém quer furar fila. O que eu não posso é ficar refém de um sistema lento, moroso, enquanto estamos em uma guerra
Carlos Wizard, empresário
Sobre a obrigatoriedade da doação da metade das vacinas ao PNI, Wizard vê a regra como duplicidade, uma vez que vacinando funcionários, automaticamente eles saem da fila do SUS. “Queremos doar 10 milhões. Agora se formos obrigados a doar em duplicidade, aceitaremos. O problema é que nem isso podemos fazer agora.”
Burocracia
Simpatizante do presidente Jair Bolsonaro, assim como o colega Luciano Hang, Wizard diz reconhecer o empenho do setor público de solucionar a crise sanitária, mas critica a burocracia e velocidade da máquina pública.
“Nós somos solidários e, em apoio ao SUS, abrimos esse movimento. Vários empresários são simpatizantes e vamos fazer isso gratuitamente, não temos nenhum interesse comercial, econômico ou financeiro”, destaca.
O empreendedor preferiu não revelar com quais laboratórios mantém contato para a compra de imunizantes. Disse apenas que os preços cotados na Ásia e na América do Norte, até o momento, variam de US$ 7 a US$ 10 por dose.
Batalha judicial
Na última terça-feira (30), o juiz Valcir Espinholo, da 21ª Vara Federal, permitiu que mais cinco entidades pudessem utilizar todas as vacinas compradas por conta própria exclusivamente para imunização de seus funcionários. Na semana passada, o mesmo magistrado já tinha declarado inconstitucional um trecho da Lei 14.125, que determinava a doação de todas as vacinas compradas por empresas enquanto o Brasil não vacinasse os grupos prioritários contra o novo coronavírus.
Wizard vê o movimento jurídico como “um começo” e entende que as decisões de primeira instância reforçam o seu argumento de que a norma é inconstitucional. Entretanto, por ora, descarta adotar a mesma estratégia de sindicatos e outra entidades que judicializaram a questão.
“Preferimos trabalhar com argumentação, convencimento. Lançamos um abaixo-assinado que já tem 300 mil assinaturas. Nossa esperança é que haja avanço no Congresso, contamos com apoio popular e esperamos que o tema supere a questão ideológico-partidária”, disse. “Queremos trazer saúde. Um dos itens da Constituição Federal é a obrigação de o governo assegurar saúde à população. Agora, eu como empresário estou impossibilitado de oferecer saúde”, lamenta.
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Luciano Hang (à esq.), Arthur Lira e Carlos Wizard durante entrega de abaixo assinado, em Brasília
Divulgação – 25.03.2021
Em sua primeira reunião, na última quarta-feira (31), o Comitê de Coordenação Nacional para Enfrentamento da Pandemia da Covid-19 debateu o aumento da participação na iniciativa privada na vacinação e também a possibilidade de empresas ajudarem na abertura de leitos para tratamento da doença.
Na ocasião, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o governo federal recebeu “com satisfação” as propostas levadas por Pacheco e Lira ao comitê.
Usando o mesmo termo adotado por Wizard para justificar a necessidade de vacinar os funcionários da iniciativa privada e, assim, retomar a atividade econômica do país, Lira classificou o momento como “guerra” em que “vale tudo” no combate à pandemia.
Para defender a possibilidade da ampliação da participação privada, Pacheco citou o fato de que já foram contratadas doses suficientes para a imunização da população, ainda que não tenham sido entregues. Segundo Queiroga, até ontem, já foram contratadas 560 milhões de doses de vacinas. Contudo, apenas 34 milhões acabaram distribuídas.