<img src=’https://img.r7.com/images/professor-valter-longo-05042024163921574′ /><br />

Valter Longo é diretor do programa de longevidade e câncer do Instituto IFOM de Oncologia Molecular
Alessandro Grassani/The New York Times

A maioria dos integrantes da banda adotava um estilo de vida do tipo "viva rápido e morra jovem". Mas, enquanto bebiam e se drogavam de forma endêmica na cena grunge dos anos 90 depois dos shows na Whiskey a Go Go, no Roxy e em outras boates da Costa Oeste dos Estados Unidos, o guitarrista da banda, Valter Longo, estudante de doutorado italiano obcecado por nutrição, enfrentava um vício em longevidade que duraria a vida inteira.

Agora, décadas depois de ter deixado sua banda da era grunge, a DOT, para seguir uma carreira em bioquímica, o italiano Longo, catedrático com cabelo desgrenhado de roqueiro e jaleco de laboratório, encontra-se no centro das obsessões italianas por alimentação e envelhecimento. "A Itália é um lugar simplesmente incrível para estudar o envelhecimento. É o nirvana", disse Longo, jovem de 56 anos, no laboratório que dirige em um instituto de câncer em Milão, onde será palestrante em uma conferência sobre envelhecimento no fim deste mês. Com uma das populações mais idosas do mundo, a Itália possui diversos bolsões de centenários que fascinam os pesquisadores que buscam a fonte da juventude.

Também professor de gerontologia e diretor do Instituto de Longevidade da Universidade do Sul da Califórnia (USC), Longo há muito tempo defende uma vida mais extensa e de melhor qualidade por meio da dieta italiana. Essa teoria é parte de uma onda global de ideias que exploram como manter a juventude até o fim da vida, área de estudo que ainda está na adolescência.

Além de identificar os genes que regulam o envelhecimento, ele desenvolveu uma dieta baseada em plantas e nozes que imita os efeitos do jejum, complementada por suplementos e biscoitos de couve. Segundo ele, essa abordagem permite que as células se livrem de toxinas prejudiciais e rejuvenesçam, sem os efeitos negativos de passar fome. Longo patenteou e comercializou seus kits de dieta ProLon, além de ter escrito livros de sucesso, como A Dieta da Longevidade, sendo reconhecido como um influente "evangelista do jejum" pela revista Time.

No mês passado, ele divulgou um novo estudo baseado em testes clínicos com centenas de idosos, incluindo residentes na cidade da Calábria, região de origem de sua família. De acordo com ele, os resultados sugerem que ciclos periódicos de sua abordagem de jejum simulado podem reduzir a idade biológica e prevenir doenças associadas ao envelhecimento.

Sua fundação privada, sediada em Milão, não apenas desenvolve dietas personalizadas para pacientes com câncer, mas também fornece consultoria para empresas e escolas italianas, promovendo uma dieta mediterrânea que, paradoxalmente, é pouco conhecida pela maioria dos italianos hoje em dia. "Quase ninguém na Itália segue a dieta mediterrânea", observou Longo, que tem um jeito californiano descontraído e sotaque italiano, acrescentando que muitas crianças italianas, especialmente no sul do país, estão obesas, inchadas com o consumo do que ele chama de os cinco "P’s" tóxicos — pizza, macarrão (pasta), proteína, batata (patata) e pão.

Longo tem diversos livros de sucesso publicados sobre o assunto, como "A Dieta da Longevidade"
Alessandro Grassani/The New York Times

Recentemente, na fundação, a dra. Romina Cervigni, nutricionista residente, estava cercada por fotos na parede que mostravam Longo tocando violão com centenários, além de prateleiras com seus livros sobre a dieta da longevidade, repletos de receitas e traduzidos para vários idiomas. "Ela se assemelha muito à dieta mediterrânea original, não à versão atual", explicou ela, indicando fotos na parede de uma tigela de leguminosas antigas parecidas com grão-de-bico e uma vagem de feijão-verde da Calábria, que ela identificou como o prato favorito de Longo.

Ele, que na última década tem alternado entre a Califórnia e a Itália, costumava trabalhar em um nicho específico de mercado. No entanto, nos últimos anos os bilionários do Vale do Silício, buscando a eterna juventude, têm financiado laboratórios secretos. Os artigos sobre bem-estar têm dominado as manchetes dos jornais, e os feeds de redes sociais das pessoas comuns de meia-idade estão repletos de anúncios de programas de exercícios e dietas que prometem ser a "fonte da juventude", apresentando indivíduos de meia-idade incrivelmente em forma.

Apesar do crescente interesse em conceitos como longevidade, jejum intermitente e idade biológica (afinal, você é tão jovem quanto suas células!), alguns governos, como o da Itália, estão enfrentando preocupações com um futuro incerto. Nesse cenário, a perspectiva de uma população idosa em crescimento, que demanda cada vez mais recursos, está gerando inquietação com o ônus que isso representa para os jovens, que são uma minoria cada vez menor.

Contudo, cientistas, nutricionistas e entusiastas da longevidade no mundo inteiro ainda voltam seus olhos para a Itália, buscando nos segredos dos seus centenários algum ingrediente especial para uma vida longa. "Eles possivelmente tiveram filhos com primos e outros parentes próximos. Em determinado momento, suspeitamos que isso possa ter contribuído para a formação do genoma da superlongevidade", sugeriu Longo, fazendo menção às relações por vezes próximas nas pequenas cidades nas colinas italianas.

A suposição é que as desvantagens genéticas do incesto foram desaparecendo gradualmente, seja porque essas mutações levaram à morte dos portadores antes que pudessem se reproduzir, seja porque a comunidade notou doenças graves em determinadas linhagens familiares, como Alzheimer precoce, e evitou essas uniões. "Em uma cidade pequena, seria fácil identificar isso."

Longo especula se os centenários italianos foram protegidos de doenças mais tarde na vida em razão de um período de fome e de uma dieta mediterrânea tradicional durante a pobreza extrema da Itália rural ao longo da guerra. Posteriormente, um aumento na ingestão de proteínas e gorduras e os avanços da medicina depois do milagre econômico do pós-guerra na Itália podem tê-los protegido da fragilidade à medida que envelheciam, mantendo-os vivos. Ele sugere que isso pode ser uma coincidência histórica que não veremos novamente.

Além de identificar genes que regulam o envelhecimento, Longo criou uma dieta que imita o jejum
Alessandro Grassani/The New York Times

Desde muito jovem, Longo nutre uma fascinação pelos mistérios do envelhecimento. Embora tenha crescido no porto de Gênova, no noroeste da Itália, todo verão ele visitava os avós em Molochio, na Calábria, cidade famosa por seus centenários. Aos cinco anos, estava no quarto quando seu avô faleceu aos 70 anos. "Provavelmente foi algo facilmente evitável", comentou.

Aos 16, mudou-se para Chicago para morar com parentes e não pôde deixar de observar que suas tias e seus tios de meia-idade, alimentados com a "dieta de Chicago" repleta de salsichas e bebidas açucaradas, sofriam de diabetes e doenças cardiovasculares — realidade bem diferente da de seus parentes na Calábria. "Era aquela dieta terrível dos anos 1980."

Durante sua estada em Chicago, ia frequentemente ao centro da cidade para conectar sua guitarra em qualquer clube de blues que lhe permitisse tocar. Mais tarde, matriculou-se no renomado programa de guitarra de jazz da Universidade do Norte do Texas. "A alimentação lá era ainda pior: Tex-Mex."

Como acabou entrando em conflito com a faculdade de música ao se recusar a liderar a banda marcial, concentrou-se em sua outra paixão. "Eu já pensava muito no envelhecimento."

No fim, obteve o doutorado em bioquímica na Ucla e completou um pós-doutorado em neurobiologia do envelhecimento na USC. Longo superou o ceticismo inicial em relação a essa especialidade para publicar em revistas médicas importantes e se tornou um defensor fervoroso dos efeitos rejuvenescedores de sua dieta. Cerca de dez anos atrás, ansioso para estar mais próximo de seus pais idosos em Gênova, aceitou uma segunda posição no Instituto de Oncologia Ifom em Milão.

Encontrou inspiração na dieta rica em peixes de Gênova e nos abundantes vegetais da Calábria. "Genética e nutrição: é simplesmente incrível", disse, vendo a Itália como um laboratório de envelhecimento.

No entanto, também considerava a dieta italiana moderna — com suas carnes curadas, lasanhas pesadas e legumes fritos que o mundo adorava — terrível, além de representar uma fonte de doenças. E, como outros pesquisadores italianos do envelhecimento que buscam causas na inflamação ou almejam eliminar células senescentes com medicamentos específicos, afirmou que a escassez de investimentos em pesquisa na Itália é vergonhosa. "Lamento que a Itália tenha uma história e uma abundância de informações sobre o envelhecimento, mas praticamente não invista na pesquisa desse processo."

De volta ao seu laboratório, enquanto colegas preparavam o "caldo de carne" da dieta simuladora de jejum para camundongos, Longo passou por uma foto que mostrava uma parede danificada e os dizeres: "Estamos lentamente desmoronando." Durante a conversa, discutiu como sua equipe e outros pesquisadores identificaram em leveduras um importante regulador do processo de envelhecimento e como investigaram se esse mecanismo se estendia a todos os organismos. Destacou que sua pesquisa foi enriquecida por suas experiências de improvisação musical, que expandiram sua visão para possibilidades inesperadas, incluindo o uso da dieta para privar células afetadas por câncer e outras doenças de nutrientes.

Longo expressou seu compromisso em estender a juventude e promover a saúde, destacando que seu objetivo não se limita a prolongar a vida, mas sim a criar um ambiente propício para uma existência plena. Alertou sobre os perigos de uma abordagem que priorize apenas o aumento da longevidade, alertando para a possibilidade de criar disparidades sociais preocupantes, pois somente os mais abastados teriam acesso a uma vida que se estenderia por séculos, potencialmente restringindo as oportunidades das gerações futuras.

Segundo ele, um cenário de curto prazo mais provável seria a divisão entre duas populações distintas. Uma delas viveria de maneira semelhante ao atual padrão, alcançando a marca dos 80 anos, ou mais, graças aos avanços médicos. Entretanto, enfrentariam desafios como a solidão em decorrência da diminuição da taxa de natalidade, além de doenças debilitantes. A outra população adotaria dietas de jejum e se beneficiaria de avanços científicos, prolongando sua expectativa de vida para cem ou até 110 anos, com uma saúde relativamente robusta.

Como alguém que segue as próprias recomendações, Longo se identifica com a última categoria. "Meu objetivo é viver até os 120, 130 anos. Isso nos deixa preocupados atualmente, porque muita gente afirma: ‘Claro, todo mundo deveria alcançar pelo menos os 100.’ Mas não compreende como é desafiador chegar a essa marca."

CategorySaúde

Copyright © 2016 - Plena Jataí. Todos os direitos reservados.

Clínica/Laboratório: (64) 3631-5080 | (64) 3631-5090
Farmácia: (64) 3631-8020 | (64) 3631-8030
Imagem: (64) 3631-6001